Ética Gestão de Pessoas

T.I. Na Era Do Carvão: Comunicação Em Projetos

Comunicar é um ato que quase todos os seres vivos praticam. Sejam animais, vegetais, ou até políticos. Desde a idade antiga, perto do fogo, nossos ancestrais contavam histórias sobre quem éramos, o que fazíamos e o que o mundo a nossa volta significava. Animais se comunicam por instinto (apenas?) e plantas aparentemente se utilizam da química para a transmissão de dados, segundo consta.

E o homem? Bem, este não aparenta ter grande talento nisso.

O que quero dizer é que o homem realmente destacou-se dos demais seres vivos quando inventou a escrita, ou seja, utilizou uma técnica artificial, além da que a natureza lhe proveu.

Até então, éramos apenas mais um entre tantos outros. Tudo mudou com o advento da chamada “Tecnologia da Informação” (mesmo que “movida a carvão”, nos seus primórdios). O departamento de “TI Neandertal” é o que nos tornou únicos e é o que também nos trouxe problemas únicos.

O homem, segundo L.F. Veríssimo em sua genial crônica Memória e Anotações (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,memoria-e-anotacoes-,775929,0.htm) , é um “animal que só existe se registrar um fato”.

É isso mesmo,  através da história, nossa evolução sofisticou de tal maneira a realidade em que vivemos (cada qual no contexto de sua época), que não conseguimos mais nos valer apenas da memória.

Bem lá no início, bastava lembrar onde deixamos aquela carcaça de (digamos) bisonte, para retornar mais tarde com o grupo, munidos de utensílios de corte, transporte e armazenagem. Ou em que estado se encontra aquela fonte de água limpa(?), onde os outros animais normalmente não se lavam (ainda).

No entanto, na medida em que nossa civilização foi se tornando mais sofisticada,  um volume crescente de registros simultâneos foram se tornando necessários. Não era apenas um aumento no volume de “ocorrências de rotina”, mas também as mensagens, elas mesmas, se tornaram mais sofisticadas – não se trata nem mais da “posse de  caça abatida” ou “Grog, aquele patife, roubou minha mulher”, mas, sim, de temas não-convencionais, tais como lembrar-se de colocar mirra, ouro e especiarias na bagagem. Este é um exemplo eficiente de casos em que pessoas idosas tendem a esquecer de seus afazeres com mais facilidade, e estes produtos não estão disponíveis em qualquer estalagem pelo caminho, muito menos em uma manjedoura.  A evolução aumenta a expectativa de vida, que por sua vez, aumenta a variedade de perfis de comunicação.

A informação também passou a atingir seus alvos com maior rapidez e alcance e com menor esforço. Imagens e palavras reproduzidas em série, da Alemanha para o mundo, acabaram com a arte iluminista gótica do século XV   – ou, pelo menos, reposicionou este mercado, levando muito mais conhecimento às massas. Teria sido esse o início da “obsolescência tecnológica”, que hoje nos faz comprar novos e mais potentes computadores, mesmo quando não precisamos deles?

Nem é preciso comentar sobre como a velocidade de geração e o descarte das informações, também aumentou.

O que é relevante hoje, poderá ser desprezado logo mais, em períodos cada vez mais curtos. Orson Welles, com seu “Guerra dos Mundos” (1953 ), nos mostrou que a informação é mais fulminante do que um raio alienígena, e mais fugaz do que um programa de rádio.

 Saltos gigantescos com vara curta

Bem, vamos dar um enorme salto no tempo e no espaço e restringir este tema à comunicação em projetos.  Imagine o quanto de informação o Homo Sapiens, enquanto que gerente de projetos, precisa administrar frente ao volume requerido ao mesmo perfil de profissional, a meros 15 anos atrás (pouco antes da era da internet começar)!

Apesar de nossos sistemas de informação na gestão de projetos (PMIS, em inglês) estarem cada vez mais sofisticados, ainda não conseguimos encontrar uma maneira coerente e abrangente de utilizar tais ferramentas. É da natureza humana se considerar totalmente proficiente em uma tecnologia, mesmo não sendo verdade. “Power users” de programas de gestão da comunicação em projetos geralmente vivem nesta ilusão, isolados em um mesmo grupo.

O desafio ainda é o mesmo. Lidar com um volume sempre crescente de informações – mais rápidas, mais complexas, mais abrangentes e menos permanentes  – está para nós hoje assim como estava para um contador na cidade Mesopotâmica de Ur, tentando organizar seu inventário antes de enviar provisões à filial na capital, Babilônia, tudo eficientemente registrado em tabletes de barro, é  apenas uma questão de proporções.

O incrível é que, mesmo consideradas tais proporções, ainda não estamos melhores do que nosso colega em Ur, no tocante a comunicação, pois ela requer que todos possam aproveitar do sistema de maneira mais ou menos uniforme. Sendo assim, fazer-se entender consistentemente por todos, o tempo todo, é utopia.

Poucas são as organizações, neste mundo tão mais sofisticado no qual vivemos, que realmente administram sua comunicação com relativa eficiência. A cidade remota que ficava à beira de um rio, ou ao largo de uma rota comercial, agora se tornou uma “vila virtual”, localizada ao longo das velozes rotas da Internet. Tudo está conectado a tudo o mais, ao mesmo tempo, o tempo todo!

Por mais evoluídos que possamos estar, nunca suplantaremos a enorme demanda de informações que geramos para nós mesmos. Com, ou sem, tabletes de barro de última geração!

Mathias Carvalho

Mathias Carvalho

Especialista em mídia digital, desde 1997 trabalhando com planejamento estratégico e gerenciamento de projetos digitais. Professor no MBA em Ger. de Projetos FGV. Doutorando na Rennes SB/FRA, focado em jogos sérios. Mestrado em Marketing Internacional pela UNLP/ARG; MBA em Gerenciamento de Projetos e CEAG pela FGV. Certificados PMP, PRINCE2 e SFC.

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