Gestão de Pessoas

Eu Sou Um Líder E Tenho Um Profissional Da Equipe Envolvido Em Caso De Conflito Ético: Eu Faço Uma Denúncia Ética?

Eu estou desconfiado de que um dos meus colaboradores está recebendo “uns trocados por fora”, para favorecer a escolha de um fornecedor. Eu não tenho como provar, o que eu posso fazer neste caso, devo denúnciar?”

 O extrato acima trata de um conflito ético, vivido por uma liderança em uma empresa de médio porte, na região de São Paulo. Para analisar este caso é preciso esclarecer alguns pontos, para então, proceder uma tomada de decisão.

O primeiro ponto a ser esclarecido é a realização de uma pesquisa interna, para saber se a empresa possui uma de gestão de sustentabilidade ética. Esta gestão estaria alinhada às diretrizes da governança corporativa e consiste em uma estrutura de gestão, como o Comitê de Ética e ferramentas, como o código de ética, ouvidoria ou canal 0800, as medidas disciplinares, bem como, selagens e certificações, que podem dialogar com estas diretrizes.

Confirmada a presença e atuação da gestão de sustentabilidade ética, cabe buscar as evidências dessa prática, para que se possa fazer uma denúncia ética, via canal da ouvidora. Vale ressaltar que é importante manter sigilo da informação, a fim de evitar ruídos de comunicação no ambiente de trabalho. A partir daí, esta denúncia será analisada pelo Comitê de Ética, cabendo a este órgão proceder as medidas disciplinares, caso sejam necessárias.

Agindo desta maneira, é possível ficar isento de possíveis retaliações e perseguições no ambiente de trabalho. A tomada de decisão deste caso, dependerá da legitimidade do Comitê de Ética na resolução do conflito, desta forma, evitando favorecimentos e  discriminações.

O segundo aspecto que deve ser observado refere-se ao caso da empresa não possuir esta estrutura de gestão, tornando difícil a realização de uma denúncia ética. Desta forma, sem uma gestão de sustentabilidade ética para dar suporte às verificações do conflito e, consequentemente, a aplicação adequada e justa das devidas medidas disciplinares, entramos em uma “zona cinza” da ética. Em um território onde as condutas não estejam elencadas de forma transparente e acessíveis a todo público envolvido e de relacionamento, é extremamente complicado parametrizar e julgar condutas ditas “antiéticas”. A carência de uma estrutura de gestão de sustentabilidade ética pode levar a interpretações errôneas e injustas, dando margem a situações desagradáveis no ambiente de trabalho, como perseguições, retaliações, injúrias, calúnias, discriminações e ações que podem levar a processos de assédio moral.

Analisados os dois pontos acima, um terceiro ponto também envolve uma denúncia ética: o capital político dos envolvidos no caso. O risco de uma denúncia, principalmente quando não há uma gestão de sustentabilidade ética é muito maior e, dependendo do capital político e do “jogo de poder” envolvido, a “corda vai arrebentar para o lado mais fraco”! Neste caso, a denúncia poderá acarretar um desfecho nada justo, levando a demissão do denunciante, ou então, acarretar uma mancha no portifólio de carreira deste profissional.

As empresas que possuem esta estrutura ética de modo legítimo, prezam pela sua correta aplicação em todos os seus níveis hierárquico, desde o topo, até a base! Sendo assim, aplicando, monitorando e avaliando os resultados desta estrutura em seu cotidiano e sua aderência, junto aos diferentes públicos. Há empresas que já trabalham com ferramentas de gerenciamento de projetos (PMBOK e/ou PDCA) e seus processos e fases na gestão de sustentabilidade ética.

A análise destes pontos são relevantes, para que o profissional possa avaliar o risco envolvido em uma denúncia ética e quais os caminhos deve seguir frente a uma situação conflitante. É importante avaliar o cenário e avaliar o quanto está envolvido com o caso, refletindo também o risco, no caso da não denúncia, de acabar sendo citado futuramente, como comparsa em um caso antiético.

Enfim, uma empresa que possui uma estrutura de sustentabilidade ética favorece condutas ética, agindo preventivamente e gerenciando os riscos envolvidos em situações de conflito – maior o suporte em caso de conflitos éticos (fraudes financeiras, roubo, suborno, propina, assédio moral, assédio sexual, favorecimentos, uso inadequado de informações sigilosas, entre outros conflitos) e maior capacidade de imputar uma medida disciplinar justa, quando necessária.

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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