Muito se teoriza acerca da amplitude de implementarmos as metodologias ágeis nos negócios, porém devemos ter cuidado ao adotá-las para que sejam efetivas.
Introdução
Antes de abordar os valores e pilares das metodologias ágeis de gerenciamento de projetos, faz-se necessário estabelecer algumas considerações a respeito destes métodos que, apesar de muito efetivos, não funcionam em todos os segmentos.
Para testar os resultados do Agile nas organizações, um estudo analisou 1002 indústrias de diversos setores e em diversas partes do mundo. Foram examinados projetos de tecnologia, desenvolvimento de novos produtos, melhoria de processos, dentre muitos outros que não tratavam, necessariamente, de desenvolvimento de softwares.
Inicialmente, o estudo avaliou 1539 projetos. Após a retirada do resultado, os outliers, restaram 1386. Do total, 36% eram provenientes dos Estados Unidos. Entre muitos outros países, também havia projetos da Índia (6,7%), do Canadá (2,2%), da Austrália (1,7%), da Espanha (1,3%) e do Brasil (1,3%).
Os responsáveis por responder aos questionamentos dos pesquisadores eram gerentes de projetos (304), gerentes seniores de projeto (141), gerentes de programa (72), coordenadores de projetos (66), membros do time de projeto (58), gerentes seniores (36), gerentes de programa e de produtos (22) e, finalmente, executivos C-Level (14).
Aposta em bons resultados com as metodologias ágeis
Para verificar se o Agile realmente atingiu sucesso em sua implementação, analisaram-se os projetos por meio de duas dimensões (SERRADOR; PINTO, 2015):
- Eficiência (Analisada a partir do poder e capacidade de ser efetivo)
- Satisfação do stakeholder (considerando-se os objetivos da organização)
Todos os projetos visaram a implementação de metodologias ágeis, e a conclusão final aponta para a existência de uma relação direta entre o uso do Agile e os fatores de sucesso dos projetos. Empresas de alta tecnologia e de desenvolvimento de softwares alcançaram altos fatores e foram bem sucedidas. De fato, o Agile foi originalmente desenvolvido para este segmento.
Porém, diversos segmentos, como os de cuidados com a saúde e de serviços, e outros onde estão diversas empresas focadas em inovação contínua, obtiveram excelentes resultados com metodologias ágeis. Neles, há a predominância de projetos que visam atender às mudanças de mercado, ocasionadas pela inovação.
Diferenças entre os segmentos
No entanto, alguns segmentos, como a construção civil, as manufaturas tradicionais e varejos, mostraram-se mais aderentes às metodologias tradicionais de gestão de projetos, pois seus projetos são, frequentemente, de longo prazo, e mais previsíveis.
A despeito da pesquisa, acredito o varejo e algumas manufaturas tradicionais sofrerão muitas mudanças por causa da disrupção em seus segmentos e do surgimento de modelos de negócios substitutivos aos atuais.
O segmento automotivo, por exemplo, vivencia uma grande mudança com o desenvolvimento de carros elétricos e autônomos. Atualmente, os carros autônomos encontram-se no nível 3 de automação, que oferece ao motorista uma autonomia limitada.
Neste nível, o motorista cede controle total para todas as funções críticas de segurança, sob determinadas condições de tráfico e ambientais (GREENBLATT; SHAHEEN, 2015). Analistas estimam que, a partir de 2020, um número cada vez maior de indústrias automotivas vai desenvolver carros autônomos nível 3.
O foco, então, será o desenvolvimento de veículos autônomos de nível 4, que prevê controle de viagens em estradas sem qualquer intervenção humana, havendo ou não um condutor. Ambos níveis de automação veicular vão gerar a tendência de compartilhamento de automóveis, mudando radicalmente o modelo de negócios da indústria automotiva.
Estes modelos não apenas são capazes de locomover-se de forma autônoma, mas também recarregar suas baterias, no caso de carros elétricos, e estacionar por conta própria. Tudo isso, sem a intervenção humana. Neste cenário de total mudança, equipes ágeis serão fundamentais, pois o processo evolutivo vem sendo mais rápido do que o imaginado.
Além disso, já vemos a adoção cada vez mais rápida pelo mercado de veículos dos níveis 1 e 2 de automação. Eles permitem que os carros se estacionem sozinhos e envolvem pilotos automáticos adaptativos, freios automáticos e outras funções que atraem os motoristas por sua comodidade.
Open innovation
Precisamos também debater outro ponto de atenção para a adoção de equipes ágeis em projetos de open innovation. Devido à pouca documentação existente em projetos ágeis, quando os princípios do Manifesto Ágil são adotados em sua plenitude, reduzimos efetivamente a transferência de conhecimento entre as equipes.
Open innovation requer que ideias sejam desenvolvidas fora e dentro da organização, convidando empresas para colaborar mutuamente e tornando o processo flexível e ágil – pilares do Agile. (CONBOY; MORGAN, 2011).
Neste cenário, as interações curtas entre a equipe Agile de open innovation, associadas a stand-up meetings, reduziram a quantidade de tempo de compartilhamento de ideias. Portanto, é necessário que haja algumas adaptações no modelo Agile, quando se trata de open innovations, para que alcancemos os fatores de sucesso.
Em projetos ágeis, a organização ou estrutura dos times é orgânica e flexível, ao contrário das estruturas tradicionais, que são mecanicistas, burocráticas e formais. Esse modelo de desenvolvimento de projetos vem sendo adotado com cada vez mais sucesso.
Entretanto, é necessário que haja adequações em determinadas situações para que os fatores críticos de sucesso sejam alcançados – caso do open innovation, que não poderia ser desenvolvido utilizando a gestão de projetos tradicionais.
Conclusão
O Agile é uma filosofia que vem sendo adotada com uma frequência cada vez maior e foi pensada para o desenvolvimento de softwares, daí a importância de fazer adaptações. Sem dúvida alguma, o Agile é uma tendência.
Agora, cabe aos responsáveis por implementar essas metodologias a função de tomar as devidas precauções para que as necessidades dos clientes sejam entendidas, seguindo o terceiro valor do Manifesto Ágil: a colaboração com contínua com o cliente.
Referência Bibliográfica
CONBOY, K.; MORGAN, L. Beyond the customer: Opening the agile systems development process. Information and Software Technology, v. 53, n. 5, p. 535–542, 2011.
GREENBLATT, J. B.; SHAHEEN, S. Automated Vehicles, On-Demand Mobility, and Environmental Impacts. Current Sustainable/Renewable Energy Reports, v. 2, n. 3, p. 74–81, 2015.
SERRADOR, P.; PINTO, J. K. Does Agile work? – A quantitative analysis of agile project success. International Journal of Project Management, v. 33, n. 5, p. 1040–1051, 2015.
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