Geral Gestão de Pessoas

Liderar times complexos se tornará uma condição

A pandemia foi um evento global que impactou empresas e pessoas de formas positivas e negativas. Quando menciono isso, muitos perguntam como alguém ou uma empresa pode ter sido beneficiado positivamente com algo que foi fatal para milhões de pessoas?

Todos os eventos inesperados podem trazer ameaças, mas também oportunidades, como observamos na história da humanidade. O PIB nominal norte-americano teve um crescimento de aproximadamente 141% ao longo da Segunda Guerra. Neste mesmo período, o desemprego caiu de 8,1% para 0,7%.

Consequências positivas

Uma das áreas que recebeu maior investimento neste período foi a de inovação tecnológica. Apenas o projeto Manhattan, responsável por pesquisar inovações bélicas, teve um investimento de US$ 2 bilhões, empregando aproximadamente 100 mil pessoas.

Os EUA, neste período, aprenderam a produzir em escala e reduzir custos, possibilitando o consumo cada vez maior de todas as classes sociais. Esta inclusão gerou mais renda, transformando o país na maior potência econômica do globo. Em 1950 o PIB nominal dos Estados Unidos já chegava aos US$ 300 bilhões de dólares.

Muitas empresas, principalmente as de tecnologia, tiveram crescimentos fenomenais ao longo da pandemia. Por exemplo, a receita do Zoom no último trimestre de 2019 foi de US$ 188 milhões. No mesmo trimestre de 2020, o Zoom já havia alcançado uma receita de US$ 883 milhões. Em 2021, o Zoom atingiu receitas de US$ 956 milhões no primeiro semestre e de US$ 1,022 bilhões no segundo.

Empresas como Apple, Google e Amazon mostraram crescimentos robustos ao longo desses dois anos. Várias empresas chinesas mostram o mesmo desempenho em 2020 e 2021, como a Huawei e Alibaba.

Essas empresas focaram igualmente em tecnologia para crescer neste período pandêmico, assim como os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Portanto, podemos resumir que basta investir em tecnologia para crescermos em períodos turbulentos, como uma guerra ou uma pandemia? Obviamente, não.

A tecnologia como um meio de entregar valor para as pessoas

O que todos estes exemplos podem nos mostrar é que o principal investimento não foi em tecnologia, mas, sim, em pessoas com capacidade de enxergar oportunidades e saber “em que tecnologia investir”. A tecnologia é um meio para entregar valor para as pessoas, e não um fim.

Entender o que o mercado deseja e saber usufruir das tecnologias corretas é a forma que se tem para crescer em momentos de crise. A maioria dessas empresas não desenvolveram nenhuma tecnologia extraordinária. São organizações que compreenderam o que o mercado necessitava e adaptaram o que já existia para entregar valor aos clientes.

Mas, como dito anteriormente, para fazer isso precisamos de pessoas que enxerguem além do óbvio. A situação complexa que estamos vivenciando não havia ocorrido anteriormente, ou seja, uma pandemia em um mundo que imerso em tecnologia. Esta situação se difere, por exemplo, da gripe espanhola, em 1918, em plena Primeira Guerra Mundial e em um mundo totalmente analógico, gerando oportunidades totalmente distintas do que temos hoje.

Se houver uma pandemia daqui a 100 anos, certamente o contexto será totalmente diferente do de hoje. Isso vai gerar oportunidades totalmente distintas das que foram percebidas ao longo de 2020 e 2021. 

A importância da diversidades nas equipes

Portanto, a visão de oportunidade está muito associada à capacidade de observar o que vai acontecer e não o que já aconteceu. Ou seja, precisamos antecipar tendências em um momento totalmente novo, que não está associado a cenários anteriores. Esta capacidade de enxergar o novo ainda é um privilégio humano.

Desta forma, para que consigamos evoluir e crescer é necessário ter equipes capazes de compreender o novo contexto e criar diante da adversidade. Essas equipes precisam ir além e ser multidisciplinares e multiculturais, ou seja, com pessoas com diversas visões, vivências e experiências.

Essa diversidade torna possível olhar um problema em diversos ângulos, possibilitando uma visão com vários pontos de vista a respeito de um mesmo problema. Ela traz benefícios, mas também complexidade em sua gestão. São diversas pessoas pensando diferentemente, com pensamentos, histórias e ideias distintas para solucionar um mesmo problema. Isso pode gerar diversos conflitos.

Além disso, essas pessoas vão avaliar algo que ainda não foi feito. Não sabem muito bem qual caminho seguir quando o projeto se inicia, sendo necessário avaliar continuamente o que fazer e como fazer. Essas equipes navegam em um Domínio Complexo, considerando o modelo Cynefin de Dave Snowden, no qual o ambiente é de imprevisibilidade.

É necessário procurar pessoas que tenham comportamentos complementares, para que possam juntas atingir as capacidades de inovação. Isso é observado por Jeffrey H. Dyer, Hal Gregersen, e Clayton M. Christensen, em seu artigo “The DNA Innovators”, publicado pela Harvard Business Review.

Essas habilidades são:

  1. Associar
  2. Questionar
  3. Observar
  4. Experimentar
  5. Fazer Networking.

Como ter times inovadores e motivados?

Falaremos mais desses comportamentos no próximo artigo. Mas podemos adiantar que para formar um time realmente inovador, precisamos ter esses cinco comportamentos presentes, não em uma pessoa, mas na equipe.

Tais comportamentos precisam ser mensurados em pessoas, avaliados e entendidos, para que possamos formar esses times completos. Após encontrar essas pessoas, teremos de liderá-las. A diversidade tornará a liderança complexa, intensa e propositiva.

Saber liderar esses times complexos será a chave final dessa fórmula com muitas variáveis. E é uma fórmula muito volátil, pois ela pode ser modificada a cada nova descoberta, a cada nova intercorrência que venha a ocorrer.

Mas, como mostrado ao longo do texto, esta complexidade tem seus valores e recompensas, pois é por meio dela que empresas como o Zoom alcançaram resultados em um momento em que muitas organizações sucumbiram.

Portanto, te pergunto: você está preparado(a) para liderar times complexos e enxergar além do óbvio?

Referência Bibliográfica

https://www.thebalance.com/us-gdp-by-year-3305543

http://www.bls.gov/cps/cpsaat1.pdf

https://www.statista.com/statistics/226793/e-commerce-revenue-of-alibabacom/

Fernando Arbache

Fernando Arbache

Mestre em Engenharia Industrial PUC/Rio. Independent Education Consultant working with MIT Professional Education. Graduado em Engenharia Civil, UFJF. Data and Models in Engineering, Science, and Business/MIT, Cambridge, MA (USA). Challenges of Leadership in Teams/MIT, Cambridge, MA (USA). Data Science: Data to Insights/MIT, Cambridge, MA (USA). AnyLogic Advanced Program of Simulation Modeling/Hampton, NJ (USA). Experiência Acadêmica: Educational Consultant working with MIT. Instructor in Digital Courses at MIT Professional Education in Digital Transformation and Leadership in Innovation. Atuou cimo coordenador da FGV em cursos de Gestão. Atuou como professor FGV, nas cadeiras e Logística, Estatística, Gestão de Riscos e Sistemas de Informação. Professor da HSM Educação, IBMEC e FATEC. Livros escritos: ARBACHE, F. Gestão da Logística, Distribuição e Trade Marketing. São Paulo: Ed. FGV, 2004. ARBACHE, F. Logística Empresarial. Rio de Janeiro: Ed. Petrobras, 2005. ARBACHE, A. P. e ARBACHE, F. Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos. São José do Rio Preto- SP: Raízes Gráfica e Editora, 2012. Pesquisa: Desenvolvimento de modelos de mapeamento de Competências Comportamentais e Técnicas, por meio de gamificação com uso de Inteligência Artificial, utilizando Deep Learning e Machine Learning (http://www.arbache.com/mobi). Programa de Inovação com 75 cooperativas de diversas áreas de atuação e aproximadamente 500 participantes, com Kick-off no MIT PE (http://www.arbache.com/inovacoop). Desenvolvimento de Inteligências nos dados e métricas - Big data e precisão nas tomadas de decisões na gestão de pessoas. Experiência Profissional: CIO (Chief Innovations Officer) da empresa Arbache Innovations especializada em simulação, inovação com foro em HRTech e EduTech – empresa premiada no programa Conecta (http://conecta.cnt.org.br) como uma das 5 entre 500 startups mais inovadoras da América Latina. Acelerada pela Plug&Play (https://www.plugandplaytechcenter.com) em Sunnyvale, CA – Vale do Silício entre novembro e dezembro de 2018. Desenvolvimento de parceria com o MIT – Massachusetts Institute of Technology para cursos presenciais e digitais – http://www.arbache.com/mitpe, https://professional.mit.edu/programs/digital-plus-programs/who-we-work & https://professional.mit.edu/programs/international-programs/who-we-work

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