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Estica e Puxa, e a Corda Arrebenta? A Gestão das Partes Interessadas.

Quando os stakeholders secundários têm alto poder e interesse no projeto, porém com expectativas diametralmente opostas aos seus gestores, e pior: mutuamente exclusivas.
Recentemente o PMI (Project Management Institute) elevou antes era um componente do que se intitula Área de Conhecimento no Gerenciamento de Comunicações – a gestão partes interessadas em um projeto, para uma nova área independente. Nasce, assim, a 10 área de Conhecimento, na mais recente versão do Guia PMBoK (5ª ed.): Gerenciamento dos Stakeholders.

Para ilustrar este caso, vou comentar o que vi em um show, muito bem realizado, diga-se de passagem, da conhecida cantora Ana Carolina. Tive a oportunidade de assistir a este espetáculo em São Paulo, no Citibank Hall, com vista para a plateia.

Como era de se esperar, eu podia ver claramente um “mar” de luzes acesas (as malditas segundas telas) initerruptamente durante todo o espetáculo. Do alto do camarote, onde estava, esta iluminação paralela não atrapalhava tanto como ocorre em um cinema, onde a luz das telas de smartphones quase ofusca a visão de quem se sente ao lado do “infrator de costume”. Não estou exagerando, a filmagem de um espetáculo, sem a autorização prévia (lembra daquele aviso que sempre antecede o início de espetáculos, mas que todos ignoram?) pode ser penalizado com multas previstas em lei.

Por alguns minutos, tive uma visão saudosista do que era o costume em grandes shows antes da era do narcisismo portátil. Os espectadores, em um momento de grande empatia com a performance do artista no placo, acendiam seus isqueiros e criavam um efeito luminoso quase poético, parecido com o que vemos quando lanternas são colocadas em uma piscina e iluminam a noite.

Neste caso, não há empatia ou sentimento poético algum. O que existe é uma deslavada apropriação indevida de uma produção cultural, para finas pessoais. Não acho que são gravações destinadas ao comércio ilegal, e sim ao registro em mídias sociais ou para uso pessoal, em sua grande maioria. Mas não deixa de ser uma infração.

Intenções perigosas

A facilidade com que registramos eventos os quais presenciamos, privados e públicos, confere enorme força aos “stakeholders acidentais”, ou seja, indivíduos os quais não podemos identificar, que por oportunidade ou outra razão registram, com seus aparelhos móveis, tudo o que vêem pela frente. E certamente reproduzem, sem o menor controle – caiu na “rede”, é peixe.

A questão está nas expectativas de stakeholders envolvidos diretamente com o projeto: com certeza, nenhum produtor de show e eventos quer que gravações não autorizadas de espetáculos sejam distribuídas sem controle, afetando as vendas de eventuais produtos formais produzidos. No caso, se hoje encontramos o show da cantora quase na íntegra, publicado no YouTube, isso certamente afetará as futuras vendas de um DVD do evento.

Ao mesmo tempo, expectadores aparentemente não mais assistem aos eventos em que se encontram sem suas câmeras de smartphones: a experiência “do momento” passou para segundo plano? Não tem graça mais assistir com os olhos, é preciso uma telinha para valer a pena? A graça, aparentemente, não está só em participar como espectador, mas ser valorizado como reprodutor do conteúdo entre seus pares. Você é o que você publica?

Com este poder digital em mãos, qual será o futuro dos gestores de eventos no tocante ao controle da produção cultural, ou qualquer outra? O conflito de interesses, aparentemente sem solução, deve ser mitigado ao ajustar os objetivos de qualquer projeto desta natureza? Haverá um consenso possível, ou tais metas são mutualmente exclusivas?

Com certeza, esta é uma questão relevante em outras esferas, como por exemplo na divulgação de conteúdo não autorizado da empresa ou de pessoas integrantes á organização, direta ou indiretamente, em redes de mídia social (principalmente usando a rede móvel) por seus empregados (Pinterest, Instagram, Facebook, WhatsApp , Twitter Vine, etc). Como controlar estas interações “de guerrilha”? Resposta: não dá. Pelo menos não enquanto nossa postura do “deixa disso” e houver uma vigente falta de educação, aliás perpetuando uma normose quase orgasmática que leva quase todos a burlar regras e dar o famoso jeitinho (“-É só um videozinho…”).

Pense como o poder sobre a informação e sobre os canais de comunicação destes stakeholders “remotos” poderá afetar seu projeto, e com o engajamento contínuo dos mesmos se tornou muito mais relevante. A primeira coisa que vai ser revistar é a estratégia do negócio que justifica tal projeto.

Mathias Carvalho

Mathias Carvalho

Especialista em mídia digital, desde 1997 trabalhando com planejamento estratégico e gerenciamento de projetos digitais. Professor no MBA em Ger. de Projetos FGV. Doutorando na Rennes SB/FRA, focado em jogos sérios. Mestrado em Marketing Internacional pela UNLP/ARG; MBA em Gerenciamento de Projetos e CEAG pela FGV. Certificados PMP, PRINCE2 e SFC.

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