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As ameaças econômicas ocultas da desigualdade salarial de gênero no Brasil e no mundo

No primeiro artigo desta série de quatro partes, você conheceu mulheres profissionais brasileiras apresentadas no livro “Carreira feminina”, cujo prefácio eu escrevi. No livro, cada mulher descreve um desafio enfrentado em sua vida profissional: falta de reconhecimento; escolha de carreira; realinhamento e reinvenção da carreira; equilíbrio entre vida pessoal e trabalho; a luta pelo direito à educação; equidade salarial; barreiras invisíveis e o machismo.

Neste artigo, você descobrirá alguns fatos, figuras e observações sobre três desafios muito reais que mulheres no Brasil (na realidade, em todo mundo) continuam a enfrentar: a desigualdade salarial de gênero, a barreira invisível* e o machismo, assim como os efeitos econômicos prejudiciais que esses desafios provocam.

De acordo com o relatório de 2018 de Baker McKenzie, “Spotlight on the Gender Pay Gap in Latin America” (“Destaque sobre a desigualdade salarial de gênero na América Latina”),”a paridade de gênero tem um influência fundamental na prosperidade de economias e sociedades. Desenvolver e instalar metade dos talentos disponíveis do mundo tem um impacto enorme no crescimento, competitividade e disponibilidade futura de economias e negócios em todo o mundo”.

Por mais que a desigualdade salarial de gênero esteja atraindo mais atenção, essa atenção não está gerando progresso significativo. Estudos mostram consistentemente que mesmo quando equilibram-se fatores como experiência, educação, indústria e horas-trabalho, mulheres e homens são pagos diferentemente. O relatório de disparidade global de gênero de 2020 do Fórum Econômico Mundial (WEF) não é otimista em relação a uma rápida melhoria nas enraizadas desigualdades salariais de gênero e conclui que a paridade de gênero não será atingida antes de 99,5 anos. De acordo com a análise do WEF, “nenhum de nós verá a paridade de gênero em nossas vidas, e provavelmente muitos de nossos filhos também não”.

Anos para alcançar a paridade salarial entre gêneros por região
Europa ocidental54
América Latina e Caribe59
Sul da Ásia71.5
África subsaariana95
Leste europeu e Ásia Central107
Oriente Médio e Norte da África140
América do Norte151
Leste asiático e o Pacífico163

A tabela acima representa as estimativas do Fórum Econômico Mundial relativas ao tempo que regiões do globo levarão para alcançar a paridade salarial entre gêneros. O relatório do WEF indica algumas melhorias promissoras – você entenderá em breve a seguir –, mas é importante colocá-las em contexto. Os dados são, na realidade, bem nítidos: regiões e países que adotam políticas públicas para promover a diversidade e a inclusão são mais propensos a ter bons resultados.

“Criar uma força de trabalho diversa e inclusiva é um imperativo de negócios para empregadores em todo o mundo. Uma força de trabalho diversa e inclusive permite a criação de um banco de talentos amplo e ajuda a preencher lacunas de habilidades, conduzir a inovação, aumentar a rentabilidade e melhorar a competitividade. Os investidores vêm ficando mais focados nessa questão conforme a crescente atenção da mídia conduz o debate global acerca da diversidade e da inclusão” – Baker McKenzie

* No original, “the glass ceiling” (“o teto de vidro”, em tradução literal), uma metáfora da língua inglesa para a barreira invisível, sistêmica e discriminatória que impede alguns grupos de pessoas de alcançar cargos de liderança e executivos, ainda que tenham competência e capacidade de assumir essas posições em suas carreiras.

Os artigos desta série foram escritos por Clara Piloto. Conheça mais sobre a autora:

Foto Clara Piloto

Clara Piloto tem ampla experiência em treinamento e desenvolvimento de força de trabalho, andragogia, educação executiva e profissional e ensino superior. Clara é Diretora de Programas Globais e Diretora de Programas “Digital Plus” do MIT Professional Education. Ela fundou e lidera com sucesso a expansão dos programas multilingues e online do MIT e da comunidade global de lifelong learning. Clara é uma defensora da DEIB (diversidade, equidade, inclusão e pertencimento), bem como da pedagogia socialmente direcionada, da competência cultural e da equidade e igualdade de gênero. Seu trabalho se concentra na expansão do acesso à aprendizagem online por meio da eliminação do mundo físico e das barreiras linguísticas . Sua dedicação a essa missão foi recentemente reconhecida pelo prêmio “Hipatia Award in Business and Science”, do jornal espanhol El Economista, especificamente por seus esforços em reduzir a lacuna de gênero em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para mulheres de língua espanhola em todo o mundo. Para saber mais sobre o trabalho internacional de Clara Piloto no Massachusetts Institute of Technology, entre em contato com ela pelo LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/clarapiloto/.

Para mais informações sobre o novo portfólio de cursos online em português de Clara Piloto, acesse: https://professionalprograms.mit.edu/pt-pt/. Ela vem trabalhando para expandir e compartilhar o conhecimento e a experiência do MIT nas habilidades técnicas e humanas. Essa expansão é especialmente necessária para que a revolução digital que está ocorrendo no Brasil atenda às necessidades do trabalho do futuro, da indústria 4.0 e da transformação digital global. As mulheres em todo o mundo, especialmente no Brasil, estão ficando para trás. Os empregadores não podem confiar no mercado de trabalho tradicional para preencher as lacunas digitais em suas organizações. O investimento em treinamento abrangente e cuidadosamente direcionado em tecnologias digitais dará às mulheres e aos homens com empregos em situação de risco habilidades valiosas e oferecerá aos trabalhadores fora do mercado de trabalho uma maneira prática de retornar a ele. Uma força de trabalho equilibrada e justa apoiará as organizações brasileiras e terá sucesso na era digital de hoje. Junte-se à Nação MIT para tornar o mundo um lugar melhor para todos e todas.