Gestão de Projetos Liderança

Ética e Liderança Moral Em Gerenciamento De Projeto: Um Desafio Em Tempos Multiculturais

Em recente artigo apresentado, Raghupathy (2011) discute, a partir do cenário do gerenciamento de projetos, a dimensão ética e moral da liderança em tempos de globalização dos negócios.

O argumento central do autor, está na constatação de que o mundo sem fronteiras, trouxe novos desafios no que tange a dimensão ética e moral, entre estes: o multiculturalismo, os grandes fracassos corporativos e os lapsos éticos que conduziram à uma maior reflexão em torno de responsabilidades sociais e éticas, frente a economia global. Donaldson (2005), considera esta temática significativa, pois, cada vez mais, os valores estão sob tensão, particularmente quando transpomos as fronteiras e a nitidez moral fica desfocada.
Raghupathy (2011) aborda o ambiente de gerenciamento de projetos alegando que é preciso, simultaneamente, gerir projetos de modo eficaz e ético, sendo esta uma prerrogativa necessária, para orientar o fazer do gerente de projetos.
Nesta seara,  Raghupathy (2011) abre a discussão  em torno do papel de gerentes de projetos e líderes que precisam tomar decisões operacionais, estratégicas e éticas, para cumprir o que o autor denomina de “liderança moral”.
Ao traçar considerações a respeito da relevância deste debate, o autor traz à tona a importância de adicionar ao cenário econômico, maior afinidade com a dimensão ética e moral. Os escândalos éticos causados por algumas corporações, servem de pano de fundo para este argumento. Para o autor, a tomada de decisão de um líder baseada na ética irá leva-lo ao perfil de liderança moral.
A ética é vista como um conjunto de princípios de conduta correta e a tomada de decisão de um líder deve estar alicerçada em valores de direito  moral. A ética é vista como um campo subjetivo, sendo importante reconhecer o contexto na qual ela está fundada e os “atores” que dela participam. Neste ponto, a ética é cambiante, uma vez que pode variar de cultura para cultura, comunidades para comunidades. Sendo assim, a subjetividade da ética é refletida nos diversos modos de como um conflito ético pode ser solucionado, levando a tomada de decisão ética a uma perspectiva mais complexa e robusta, em tempos de globalização e multiculturalismo. Também é possível entender melhor estes conceitos a partir do texto: Passo-a-passo: entendendo a sustentabilidadeética, social, ambiental e financeira nos negócios I – Para o autor acima, cada comunidade possui um código moral e as empresas globais caminham para estabelecer também, os seus códigos de conduta ética. Estes códigos devem ser fundamentados em princípios, valores, normas, ou regras de comportamento, que buscam orientar as decisões, procedimentos e sistemas de uma organização.
O código de conduta ética, viabiliza o alinhamento da comunicação entre os diferentes públicos de relacionamento da empresa, minimizando possíveis ruídos de comunicação e, consequentemente, conflitos éticos. O código deve ser adotado em todos os níveis hierárquico da empresa e pode ser uma ferramenta valiosa de auto-regulação neste cenário. Assim, uma empresa que possui um código de ética poderá funcionar melhor, pois para Raghupathy (2011) a “ética é um bom negócio”.
Outra função do código é estabelecer uma ética de grupo forte, resultando em melhor performance e satisfação entre aqueles que o compartilham. Um dos pontos observados sugere que , a falta de compromisso nas organizações é fator resultante da ausência de conduta ética, assim, violações e dilemas éticos podem ocorrer por diferentes razões como: a má compreensão de informações levando a um beneficiamento pessoal em detrimento da empresa e de colegas de trabalho, o desrespeito com colegas por conta de divergência entre culturas e crenças, a atuação não profissional que viola o código de conduta. Vale a sugestão do seguinte texto: “O Código de Conduta Ética: o que o profissional precisa saber?”

Uma tomada de decisão ética exige uma maior sensibilidade e conhecimento de questões éticas, como também uma metodologia de análise para que os aspectos éticos possam ser considerados. Como citado anteriormente, hoje é muito mais complexo tomar uma decisão baseada em aspectos éticos, devido ao cenário multifacetado, onde ocorrem o encontro de culturas, valores e  crenças, com isto, gerando a necessidade de análise de diferentes indicadores e perspectivas.
Para o autor, é preciso gerar uma “quadro de referências” para analisar conflitos éticos e suas soluções. Entre os passos sugeridos estão: o reconhecimento de uma questão ética, a obtenção dos fatos, a avaliação de uma decisão e a reflexão sobre os resultados. A tomada de decisão também deve ser orientada pela seguinte hierarquia: código de ética da organização, o código de ética profissional e os valores morais.
Nestes termos, Raghupathy (2011) faz emergir um perfil de liderança, o qual denomina de ‘’liderança moral”, sendo aquela que caminha baseada em valores, enfocando a dimensão ética nas suas tomadas de decisões. A liderança moral é vista como um requisito para os dias de hoje, principalmente com mundo repleto de informações e com diferentes pontos de vista. As redes sociais são capazes de julgar e compartilhar informações a respeito de decisões de lideranças para todo o globo e em tempo real, para o autor, isto pode favorecer a necessidade de maior moralidade no papel da liderança eficaz.
O líder eficaz deve ser capaz de entender a conduta moral, para saber gerenciar desafios éticos e evitar decisões geradas por comportamento impulsivo e descompromissado. A compreensão destes desafios é fundamental para a atuação de um líder moral.
Além de estar preparado e compreender as questões éticas, este líder deve ser capaz de envolver pessoas e organizações para encaminhamento da ética. São pessoas capazes de transcenderem suas comunidades e  gerarem impacto em todo o globo. Raghupathy (2011) descreve como sendo líderes morais, Mahatma Ganghi e Martin Luther King, os quais exalavam as seguintes características: compromisso pessoal com um conjunto de valores que transcendem uma única nação; coragem e convicção para promover valor; habilidades de comunicação para compartilhar o valor efetivamente.
Ao encerrar o texto, o autor retoma o argumento da emergência de se discutir a respeito de valores morais universais e do papel dos líderes na aceitação de valores morais, desta forma, trazendo um impacto significativo sobre o crescimento da estrutura social e da política de cada organização.
A sustentabilidade ética, social e ambiental nas empresas também foi o foco de discussão em recente publicação “Projetos Sustentáveis: estudos e práticas brasileiras I e II (Arbache, 2010, 2011). Nestas obras, os foco está inserido na discussão teórica e prática em torno do gerenciamento de projetos e do fazer do gerente de projetos e sua equipe, para atender uma sociedade global sensibilizada e atenta para as diretrizes ética, sociais e ambientais no ambiente de trabalho. A partir desta delimitação foi possível elencar uma gama de trabalhos, realizados no âmbito do MBAs de gerenciamento de projetos da Fundação Getúlio Vargas e fazer emergir práticas condizentes com a realidade brasileira e com as especificidades deste cenário.

Referências Bibliográficas:
ARBACHE, Ana Paula. Sustentabilidade ética, social, ambiental e financeira nas empresas: pessoas, boas práticas em projetos e lucro. Projetos Sustentáveis: estudos e práticas brasileiras I. São Paulo: Editorama, 2010.

 ARBACHE, Ana Paula (Org). Projetos Sustentáveis em uma Multiplicidade de Cenários: Negócios, Organizações não Governamentais e Acadêmico: Quais os Limite e Contribuições?Projetos Sustentáveis: estudos e práticas brasileiras II. São Paulo:Editora Raízes, 2011.

DONALDSON, Thomas. Valores sob tensão: ética longe de casa. Ética e Responsabilidade social nas empresas. Trad. Afonso Celso da Cunha Serra. 3 Ed. Harward Business Review. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005

RAGHUPATHY, Shobhna. Ética e Liderança Moral em gerenciamento de projeto. PMI North America Global Congress. 2011.

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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