A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável – Rio +20 tem movimentados espaços teóricos, midiáticos e políticos. Grandes são as expectativas em torno de um debate consistente, capaz de direcionar e avançar discussões e ações, em prol de uma sociedade alinhada ao desenvolvimento sustentável.
Também emerge com força os debates que buscam enfatizar a necessidade de se pensar uma nova economia, capaz de não somente “esverdear” setores poluentes, ou que utilizam mal os recursos naturais, como o caso dos setores automobilístico, petróleo e a agroindústria.
A tese postulada é de que a economia tenha que se reinventar, e o grande desafio é enxergar uma equação mais equilibrada, que contemple o bem estar da população e os limites do planeta.
Hoje já temos os sinais que evidenciam estas limitações, seja por meio dos estudos referentes às mudanças climáticas e suas implicações, ou seja, pela maior atenção frente à biodiversidade. Estes sinais indicam que é preciso alavancar novas formas de conviver, com um ambiente que já se mostra limitado e é preciso pensar em um planeta que terá que abastecer, em futuro próximo, cerca de 9 bilhões de pessoas.
Métricas, riqueza, pobreza, fome, preservação, economia, crescimento, energias renováveis, consumo e lucro, compõem o elenco de termos que serão ativamente usados nos debates da Rio +20. O que se espera deste evento é uma tomada de atitude mais efetiva, capaz de orientar políticas e ações em diversas partes do mundo, e disseminar algo novo e factível de ser vivenciado, pelas sociedades, pelos setores produtivos e pelos governos.
A tarefa não é fácil, mas quem disse que seria? A cada rodada de negociações, mais complexos são os interesses envolvidos e mais difícil a tomada de uma atitude responsável pelos atores envolvidos.
O que venho defendendo é que todo debate é válido e fértil, pois temos que abrir o espaço para que o consenso possa aflorar e se concretizar em uma ação ética e responsável pela vida no planeta.
Neste sentido, todo e qualquer aprendizado em torno da preservação e desenvolvimento da vida, deve ser considerado e servir de subsídio para novas e mais elaboradas ações, em torno deste princípio ético – A Vida (DUSSEL, 2002).
Para Abramovay (2012), a Rio +20 poderá ter como foco central a substituição do Produto Interno Bruto (PIB), por outra medida que reflita o atual cenário da economia global, pois segundo o mesmo, “O PIB é uma medida errada sobre o modo como as sociedades usam os recursos para o seu desenvolvimento”. Este autor apresenta dois passos importantes que a Conferência trará: O primeiro aponta para a produção do conhecimento e de como este conhecimento será transposto para empresas e entidades governamentais; O segundo está nos consensos internacionais que precisam incorporar ao sistema de preços, os danos que o sistema econômico provoca na sociedade e nos ecossistemas.
Para o autor acima, já não cabe transitar pelo tradicional, é preciso mais do que isto para fazer com que o crescimento econômico, atenda aos apelos do desenvolvimento sustentável.
Então, qual será o legado da Rio +20 para todos nós? Já é possível enxergar este legado por dois viesses sendo estes: O conhecimento gerado nos debates ocorridos e nos documentos que venham a ser construídos e a visibilidade de um evento que trará para as novas gerações, maiores perspectivas para pensarem e atuarem no mundo, com mais consciência de seu papel e de suas ações. Quem sabe o legado não será o de reinventar, mas de criar novas gerações que saibam e transponham o conhecimento que ora estamos construindo.
Aí sim, teremos o novo!
ABRAMOVAY, Ricardo. PIB é uma medida incompleta e até enganosa da riqueza. Folha de São Paulo, São Paulo, 08 de junho de 2012, Caderno ciência mais saúde. p. C9, 8 junho de 2012.
DUSSEL, Enrique. Ética e Libertação na Idade da Globalização e da Exclusão. Trad. Ephraim F. Alves et al. Petrópolis: Vozes, 2002.
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