Empreendedorismo e Inovação Mercado

Por Que Elevar a Produtividade?

Está emergindo um consenso no Brasil de que é preciso elevar a produtividade. Justificativas não faltam para se engajar nessa frente. Uma primeira delas está associada ao esgotamento das fontes tradicionais do crescimento brasileiro.

Nosso crescimento apoia-se, historicamente, na adição de fatores de produção – força de trabalho e capital. Suas contribuições perfazem a maior parte, quando não todo o crescimento. Já a contribuição da produtividade para o crescimento é muito baixa ou mesmo negativa. O problema é que esse padrão de crescimento pode estar perto do seu limite. Isto porque, de um lado, o Brasil está passando por uma profunda transformação demográfica que já provoca desaceleração da taxa de crescimento da oferta de trabalho – a população em idade ativa declinará a partir da próxima década, aumentando o constrangimento ao crescimento. De outro lado, a taxa de poupança é baixa e cresce pouco, impactando os juros de longo prazo e, por conseguinte, os investimentos. O aumento da produtividade será fundamental para mitigar os efeitos deletérios da escassez de trabalho e capital.

Uma segunda justificativa é o aumento da razão de dependência de idosos (relação entre a população de pessoas idosas e a de pessoas economicamente ativas). Por ora, a razão de dependência está caindo. Mas ela aumentará, e rapidamente, a partir do início da década de 2020, impactando fortemente os orçamentos da saúde e da previdência social. O problema é que esses orçamentos já são elevados e o da previdência já experimenta grandes déficits, quando deveria registrar superávits em razão do bônus demográfico por que ainda passa o país. O aumento da produtividade será fundamental para que os então trabalhadores da ativa possam gerar, com menos sacrifício, os excedentes fiscais que serão requeridos para financiar aqueles orçamentos.

Equilibrar o orçamento da previdência e da saúde e melhorar a competitividade são alguns motivos

Uma terceira justificativa é o aumento do custo do trabalho e seus efeitos na competitividade internacional e na tendência de primarização da economia. O custo unitário do trabalho (CUT), indicador que mostra o custo, em dólar, da mão de obra corrigido pela produtividade, triplicou desde 2003 em razão da valorização cambial, do aumento do salário real — o rendimento médio do setor privado subiu 32% entre 2003 e 2012, e da estagnação da produtividade do trabalho. A aceleração do CUT afeta especialmente a competitividade dos setores cujos custos do trabalho são elevados e que são mais expostos à competição internacional, tal como é o caso da indústria em geral. O aumento da produtividade será fundamental para se mitigar a tendência de perda da competitividade internacional da indústria e de primarização da economia.

A quarta justificativa é a conformação de uma nova geografia da produção e da inovação. Os Estados Unidos voltaram a dar atenção para a indústria e o setor já é um dos principais responsáveis pelo crescimento do produto e emprego. De outro lado, países como Índia, Vietnã e Indonésia e países africanos estão investindo na manufatura de massa. A China, por sua vez, produz cada vez mais manufatura de massa nessas regiões, ao tempo em que faz a sua transformação estrutural através de um profundo upgrade tecnológico. Grandes mudanças também estão emergindo no campo da energia e os Estados Unidos, de maior importador, estão se transformando numa grande potência em hidrocarbonetos. A nova geografia da produção redesenhará a economia mundial e as consequências para o Brasil serão substanciais devido ao inevitável acirramento da competição nos mercados de produtos intensivos em trabalho e nos mercados de médio e alto valor agregado, incluindo o de aeronaves, bens de capitais, produtos químicos e telecomunicações, setores em que o Brasil já ocupa espaço e ambiciona expandir a sua presença. O aumento da produtividade, acompanhado do aumento das inovações, será crucial para que a indústria brasileira possa competir em nível global.

Uma quinta justificativa é a sedimentação das conquistas sociais recentes. Com muito sacrifício, o Brasil fez um bem sucedido programa de combate à inflação que beneficiou especialmente os pobres, e, mais tarde, programas, também bem-sucedidos, de combate à pobreza e à desigualdade. Mas, para que se possa sedimentar essas conquistas e para que se possa avançar, é necessário que a produtividade aumente de forma a elevar a disponibilidade de bens e serviços sem pressionar a demanda por fatores e insumos de produção. O aumento da produtividade torna-se ainda mais premente num contexto de crescente escassez de força de trabalho e elevação do CUT, que estão se transformando em componentes estruturais da formação de preços.

Uma outra justificativa é que o aumento da produtividade será fundamental para se reduzir o hiato de renda per capita entre o Brasil e os países industrializados. Para que a renda do Brasil possa convergir para a daqueles países e para que o país venha a exercer maior influência econômica e política no mundo, como se pretende, será preciso que a taxa de crescimento da produtividade aumente rapidamente por vários anos seguidos, de forma a que a diferença entre os níveis de produtividade diminua, viabilizando a convergência da renda.

O aumento da produtividade é de interesse e requer a colaboração de todos. Deveríamos, por isso, fazer um grande debate nacional em torno dessa agenda e torná-la prioridade de política pública.

Jorge Arbache é assessor da presidência do BNDES e professor da Universidade de Brasília. Este artigo não representa necessariamente as visões do BNDES e de sua diretoria. jarbache@gmail.com.

© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

Leia mais em:
http://www.valor.com.br/opiniao/3101620/por-que-elevar-produtividade#ixzz2RYTrDrwX