Empreendedorismo e Inovação Sustentabilidade

Parte 1: Multiculturalismo, Ética e Responsabilidade Social: Desafios No Mundo Corporativo

multiculturalismo

Palestra Ministrada pela Dra. Profa. Ana Paula Arbache

Introdução

Um cenário novo nos foi apresentado no fim do século XX. A realidade mundial ganhou, e continua ganhando,  outros marcos de pensamento e reconfigurando àqueles até então estabelecidos  nos segmentos econômico, social, político e cultural. O tecido social, influenciado pela difusão das informações à nível local e global, faz com que os sujeitos em seus cotidianos assumam posicionamentos diferentes, provisórios e móveis, uma vez que, o cruzamento de fronteiras culturais viabilizam tal movimento.

Desta forma, uma nova configuração dos sujeitos e de suas identidades, bem como de suas posturas emerge, nos mostrando uma vigorosa articulação dos espaços, que agora são híbridos, e das relações interpessoais, que agora são mediadas pelo cruzamento de contextos e pela divulgação das informações.

Neste sentido, os contextos mudam, os sujeitos mudam, os costumes mudam ou reconfiguram-se. O que era considerado errado hoje em uma sociedade dita ‘civilizada’, pode ser muito bem aceito entre os índios numa tribo no Mato Grosso, ou , ser rejeitado por uma outra tribo de índios na floresta Amazônica. Outro exemplo são as discussões em torno do uso do véu Islâmico e o debate feminista em torno da liberdade da mulher. Encontram-se, também, às discussões em torno das questões raciais, assim, um pensamento aceito nos EUA podem influenciar o debate em nosso país mas, ganhar contornos diferentes, com demandas de discussões  diversas. Isto nos mostra, de modo embrionário neste ensaio, como valores, costumes, normas, convenções passam a ser flexibilizadas e cruzadas, podendo gestar uma listagem de convenções  provisórias.

Neste ponto, podemos perceber que o que é considerado vigente e justo em uma sociedade, pode não ser em outra. Cabe ressaltar que, hoje estão em cena os movimento de afirmação identitária, trazendo novas pautas de reivindicações e traçando suas agendas para as questões de raça, gênero, etnia, entre outros ditos marginalizados social e culturalmente. Desta forma, ampliando o debate a respeito de sensibilização e valorização da diversidade cultural e o desafio à estereótipos,  bem como formas de preconceitos e discriminações. Assim, tais grupos orientam-se para a concretização de práticas que possam inserir suas demandas em nossa sociedade, ou seja, as chamadas “ações ou políticas afirmativas”.

Nota-se, portanto, que as transformações provenientes deste contexto mutante exigem reformulações, reposicionamentos em torno de práticas, costumes, doutrinas, valores e relacionamentos, até então considerados estáveis em nosso meio. Com isso, busco particularmente neste ensaio, traçar o debate em torno da ética, do multiculturalismo e da responsabilidade social, tendo como cenário o campo empresarial brasileiro contemporâneo. Esta é uma tentativa de articulação entre tais conceitos frente ao impacto de nossa realidade e o mundo dos negócios. Assim sendo, pensar a ética e a responsabilidade social empresarial tendo à diversidade cultural e identitária de nossa sociedade como foco de discussão.

 1 – A Contribuição Multicultural Crítica

No Brasil, a partir da década de 80, observamos o crescimento e a presença ativa dos movimentos sociais: o negro, o índio, a mulher, o sem-terra evidenciando a ampliação dos direitos de cidadania para os diversos sujeitos e suas particularidades identitárias. Para além de concepções monoculturais e tendências homogeneizadoras que cristalizam identidades, conflitos culturais e silencia vozes oprimidas, diversos campos em nossa sociedade vêm se abrindo para um debate em torno da pluralidade cultural e identitária. Autores como, MCLAREN (1997 a, b), HALL (1997), CANCLINI (1995 a, b), CANEN & MOREIRA (1999), evidenciam a procura pela flexibilidade das fronteiras culturais e de ampliação de práticas voltadas para a sensibilização da pluralidade cultural e identitária dos sujeitos nela inseridos.

A problemática da diversidade cultural e da construção das diferenças têm sido trazidas em uma visão de cidadania multicultural legal, concreta, negociada em discursos e espaços. Desta forma, denunciando o etnocentrismo, o sexismo, os estereótipos e os silêncios em  relação a negros, índios, mulheres e outras identidades. Da mesma forma, autores como MCLAREN (2000, 21), apontam que a tensão entre pluralidade étnico-cultural e a necessária política de justiça universal constitui-se “a questão urgente do novo milênio”.

Desta forma, destaco o conceito de multiculturalismo crítico informado por MCLAREN (1997), considerando-o como aquele que desafia a estereótipos e a processos de construção das diferenças. Ainda, acrescentam-se as sensibilidades pós-coloniais que têm trazido, para o centro das discussões, questões referentes à construção de identidades plurais e híbridas, entendidas como fundamentais para a concretização do multiculturalismo crítico. Neste,  ressalta-se,  o papel dos discursos e ações na preparação de futuras gerações nos valores de apreciação da diversidade cultural e de desafio a preconceitos ligados a determinantes de gênero, raça, religião, “deficiências”, padrões culturais e outros.

O debate sobre pluralidade cultural e a relevância de se garantir representação das identidades culturais[1] nos diversos campos sociais,incluindo o empresarial, tem se intensificado, questões de gênero, sexualidade, etnia, identidade etc vêm, pouco a pouco, ocupando lugar privilegiado. Este espaço que vem se abrindo é, em última instância, resposta aos diferentes movimentos sociais que representam vozes em busca de direitos e legitimidade, bem como o reconhecimento, por parte dos governos, da necessidade de conter os inúmeros conflitos oriundos dessas questões.Neste debate, encontram-se as discussões em torno de Políticas de Ação Afirmativa[2] e de inclusão de grupos identitários tradicionalmente excluídos de espaços sociais sejam estes, negros, pardos, provenientes de classes sociais menos favorecidas, povos indígenas, portadores de necessidades especiais, refugiados políticos entre outros.

Conforme comenta GONÇALVES (1998), o contexto de onde se fala é relevante para o entendimento do multiculturalismo no mundo contemporâneo, pois quem escreve sobre o tema está impregnando os vários significados que ele pode carregar, desde tendências assimilacionistas e folclóricas, até mais críticas. Desta forma, procuro debater, sob o foco do multiculturalismo crítico, o contexto empresarial brasileiros contemporâneo, que está bastante influenciado por transações transfronteiras de bens e serviços, pela difusão tecnológica, pela dinamização do fluxo internacional de capitais, pela vulnerabilidade das marcas e ações e pela  afirmação da globalização.

Neste sentido, o multiculturalismo crítico pode ser importante guia de orientação para a discussão no campo empresarial, uma vez que tal contexto não está isento da diversidade cultural e identitária decorrente desta realidade, tanto a nível global, quanto a nível local. A empresa deve estar atenta para lidar com as novas situações trazidas para o seu cotidiano, entre elas está a valorização da diversidade cultural e identitária em suas instalações. Exemplo disso é expor, deste a definição de sua missão, o ponto de vista da empresa com relação à diversidade cultural, as formas de inclusão de diferentes grupos no seu quadro de pessoal, as orientações quanto ao recrutamento, programas de acompanhamento e assistência àqueles que necessitam de condições de trabalho diferenciadas como é o caso dos deficientes físicos, a discussão e regulamentação de convenções e condutas que possam orientar as relações entre os diversos funcionários, o estabelecimento de canais de comunicação para que os diversos segmentos presentes em seu tecido empresarial possam se expressar, entre outras ações.

O multiculturalismo, sendo ele crítico, não admite que as “normas e convenções’sejam ditadas sem a participação simétrica dos diferentes segmentos envolvidos e sem a discussão crítica entre os mesmos. Este,  não admite que as ações fiquem somente no papel, estas devem ser concretizadas e divulgadas à todos que fazem parte daquele contexto, a fim de que sejam vivenciadas, constantemente avaliadas e repensadas por todo o grupo. Assim, deve também, contemplar as demandas de todos, numa forma de balizar as relações e discutir os limites e contribuições de cada um deles, deve gerar possibilidades permanentes de inclusão dos sujeitos, desafiar formas de assédio, discriminação e preconceito em seu contexto, deve contribuir para a valorização da diferença como porta para novas e criativas interações e possibilidades, deve fortalecer a integração entre equipes plurais estando inseridas nelas sujeitos de diferentes crenças, orientações sexuais, situações econômicas, entre outras diferenças,  de forma a contribuir para um agir legítimo e respeitoso  em favor de uma sociedade melhor.

Como formas de estabelecer estas “ações afirmativas”, a empresa deve promover novas possibilidades, (exemplo disso é direcionar um processo de recrutamento e seleção para novos funcionários, com um olhar mais aguçado para os diversos sujeitos e, para isso,  diversificar os locais e fontes onde possam fazer as divulgações para o preenchimento de vagas, inserir, também  neste processo, maiores informações a respeito dos sujeitos e suas vivências e proceder normas para condições de igualdade no decorrer do processo de seleção).

É nesse sentido que instala-se a contribuição dos estudos multiculturais críticos fazendo das questões identitárias dos grupos marginalizados e do debate em torno das políticas de ação afirmativa, uma porta de entrada para sociedade menos excludente e preconceituosa. Desta forma, a empresa tendo  às premissas do multiculturalismo crítico para orientar suas ações quanto a  valorização da diversidade cultural e identitárias dos diferentes grupos, pode fazer desta uma aliada no processo de competência organizacional.

2- Ética Empresarial e a Ética da Vida

Para tanto, tal discussão deve assumir um viés ético, visto que,  as questões presentes em nossa sociedade multicultural podem, muitas vezes, apresentar diferentes posicionamentos . Por meio de condutas éticas que os valores, normas e convenções advindas desta realidade podem ser discutidas e consentidas criticamente.

Neste sentido, encaminhar um debate multicultural e ético no contexto empresarial emerge com significação. É neste espaço de diálogo que a empresa pode prover um ambiente  interno e externo mais condizente com as reflexões e atitudes de nossa contemporaneidade.

Muitos autores focam o tema da ética em seus estudos, entre eles estão VALLS (1986) traçando a trajetória conceitual do termo, ARRUDA (2001) incidindo a temática da ética para o contexto empresarial frente ao avanço tecnológico, NASH (2001) focando a ética empresarial frente aos dilemas atuais da sociedade e DUSSEL (2001) apresentando o conceito de ética da libertação a partir do contexto latino-americano e de seus sujeitos. A ética em DUSSEL (Idem), é não-convencional e, por isso,  é crítica e transformadora.

Conforme comenta VALLS (1986) a ética é discutida deste a antiguidade e tem como seus pensadores Platão e Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomáz de Aquino, Maquiavel e Spinoza, Kant, Hegel, Marx, entre outros. Para cada um deles a ética assume um perfil diferenciado de discussão, no qual a positividade do conceito de ética é estabelecida. Conforme remete VALLS (1986) ela é, tradicionalmente entendida como um estudo ou uma reflexão, científica e filosófica e, eventualmente teológica dos costumes e ações humanas. Para ARRUDA (2001), a ética instala-se como uma ciência voltada ao estudo filosófico da conduta humana, estuda amoralidade do agir humano considerando-os enquanto são bons ou maus, neste sentido, a principal fonte da ética é a ação humana. Percorrendo o cenário empresarial, NASH (2001) refere-se à ética nos negócios como sendo os hábitos e as escolhas que os empresários fazem no que diz respeito às suas próprias atividades e às do restante da organização.

 O conceito da ética empresarial ganhou contornos mais visíveis na década de noventa, naquele contexto, os focos de preocupação no debate da ética empresarial estavam na corrupção, na liderança e nas responsabilidades corporativas. As regras do mercado, os escândalos empresarias que aparecem na mídia, situações empresarias desconfortantes como: fraudes internas, dificuldades de recrutamento, deturpação de relatórios, favoritismos, denúncias de assédio sexual e assédio profissional, deslealdade com a empresa, supressão dos direitos de liberdade de expressão e de escolha relacionamento pessoais, discriminações raciais, étnicas, de gênero, religião, invasão de privacidade, dominação tecnológica, distribuição e coleta  irregular de informações, entre outros aspectos, imprimiam a urgência de um debate a respeito da conduta dos sujeitos.

Em meio a estas situações,  a necessidade de  uma ancoragem teórica capaz de evidenciar um conjunto de normas/condutas éticas, que possam entrelaçar a diversidade de interesses e demandas presentes no contexto empresarial. O que se procura é uma filosofia nos negócios articulando a integridade, honestidade, credibilidade, justiça, lealdade e factibilidade, na realização da atividade empresarial e no desenvolvimento concreto da vida humana.

É neste sentido que os estudos DUSSEL (2002), podem ser uma ancoragem significativa para uma debate em torno da ética empresarial. Assim, focalizo este ensaio no horizonte da ética da libertação de DUSSEL (2002)[3] pois, estabelece um diálogo com os postulados do multiculturalismo crítico, visto que, a criticidade, o olhar para aqueles chamados “oprimidos, excluídos”, bem como a abertura ao diálogo por meio de processos simétricos de participação são pontos de convergência. A ética da libertação é uma ética da vida, da vida humana, concreta, a partir da materialidade da vida do sujeito, do sujeito ético da vida cotidiana, da ética que leva em consideração o outro, do sujeito possível da práxis da libertação. Assim o que quer uma ética da libertação? Quer a vida, vida melhor, vida plena, vida ativa na história.

A partir das reflexões de DUSSEL (Idem) dar-se-á o encontro do Outro/vítima, vazio, oprimido, afetado, excluído, como o Outro/ sujeito sócio-histórico, vivente, distinto, ativo, autoconsciente, crítico. Um sujeito que carrega consigo um sentido, uma memória, uma cultura, uma comunidade, uma realidade. É um sujeito capaz de realizar ações, organizar instituições, contrapor a ordem da comunidade de comunicantes hegemônica, transformar sistemas completos de eticidade, desenvolver alternativas factíveis, inverter a negatividade das vítimas e ousar a realizar a utopia do progresso qualitativo,  do viver melhor.

DUSSEL (2002) abre espaço para o que denomina sujeitos sócio-históricos. A subjetividade inter-subjetiva é constituída de uma certa comunidade de vida. Os participantes podem comunicar-se, falar, chegar a consensos, ansiar por utopias, coordenar ações instrumentais estratégicas e ter co-responsabilidade. São os movimentos sociais, momentos de uma microestrutura de poder, de instituições , de etnias, de religiões, de nações etc.

 A subjetividade sócio-histórica que realiza a práxis da libertação, advém da comunidade global e intersubjetiva de cada tipo de vítimas,  num determinado diagrama de poder. A comunidade das vítimas em geral, é fruto de um determinado perfil, de uma certa identidade, que se afirma como diferença ante outros grupos e sujeitos sócio-históricos. O que interessa para a ética da libertação são os novos movimentos sociais, na sociedade civil ou na história, que de certo modo são comunidades de vítimas que lutam pelo re-conhecimento.

O sujeito em seu sentido intersubjetivo, sócio-histórico – como emergência dos diversos sujeitos de novos movimentos sociais – é exatamente a problemática do devir ético crítico da comunidade de vítimas. Deste modo, dominados, excluídos, silenciados e esquecidos compõem, assim, o ponto de partida para as discussões deste autor que busca tornar visível, inevitável, urgente, uma análise filosófica ética. O princípio da obrigação de produzir, reproduzir e desenvolver a vida humana concreta de cada sujeito ético é universal desta ética da libertação.

Então, é criticável o que não permite viver e, para DUSSEL (2002, p. 373), é da afirmação da vida que se pode fundamentar a não aceitação da impossibilidade de reproduzir a mesma, sendo deste ponto, que se deve exercer a crítica opondo-se ao ato, norma, instituição, sistema responsável por esta negação. Neste sentido, o sistema vigente visto como natural e legítimo aparece diante da consciência crítico-ética transfigurado num sistema negativo, sua “bondade, validade, hegemonia” é perdida, pois a consciência ético-crítica opera uma inversão prática e ética, não só teórica. É pelo reconhecimento da imperfeição do sistema existente e fonte exclusões, dominações e injustiças, que o autor julga inevitável a presença das vítimas e, por isso,   a crítica também, é inevitável.

O autor (Idem) denomina  o âmbito da factibilidade ético-crítica, como sendo o âmbito de ações que buscam negar as causas das negações das vítimas. São ações táticas, mediações de fins estratégicos, situação a partir de princípios fundamentais (ético-materiais, discursivos-formais) a fim de que, com factibilidade ético-crítica se possa negar as causas da negação da vítima, uma práxis que promova  uma utopia possível, um projeto de libertação.

A questão da factibilidade crítica trata de poder  transformar a realidade, contando com a possibilidade fática ou empírica para efetuar mudanças. O critério factível de transformação advém do confronto entre um movimento social organizado das vítimas e um sistema formal que vitimiza, considerando as possibilidades empíricas, tecnológicas, econômicas, políticas etc; e tendo como referência a negação da negatividade da vítima, ou seja, avaliar a capacidade estratégico-instrumental da comunidade das vítimas de realizar tal situação diante do sistema vigente. Uma avaliação de factibilidade ético-crítica deve estar compatível com princípios ético-materiais e discursivos-formais.

O princípio libertador ou dever ético-crítico deve intervir criticamente no progresso qualitativo da história e é por meio de uma transformação factível dos momentos que causam a negatividade material ou discursivo formal das vítimas, que constroem-se mediações com factibilidade estratégico-instrumental crítica, bem como, novos sistemas “complexos” de eticidade onde as vítimas possam viver melhor.Para a ética da libertação, as vítimas excluídas assimetricamente  da comunidade de comunicadores hegemônica, se reúnem em uma comunidade crítico-simétrica.

O critério formal procedimental crítico é  um critério de validade de participação intersubjetiva dos excluídos, em uma comunidade de comunicação das vítimas. Trata-se da validade, da criticidade, do momento em que se efetua o acordo crítico a cerca de um juízo de fato: a exclusão, com nova validade intersubjetiva para as vítimas.  A consensualidade crítica é vista como um processo diacrônico, o que se denomina: conscientização.  A tomada de consciência da exclusão faz emergir a necessidade de se construir uma comunidade de comunicação das vítimas. Parte desta  comunidade, a intersubjetividade crítica das vítimas, que é seu principal  trabalho conscientizador. Para avançar neste debate, DUSSEL (2002) distingue verdade e validade, refletindo que a validade de uma verdade somente é alcançada mediante a participação simétrica daqueles que têm o poder no sistema.

A intersubjetividade crítica é considerada como critério de nova realidade, do novo consenso crítico. O critério crítico discursivo de validade, consiste na referência à intersubjetividade das vítimas, excluídas dos acordos que afetam. É  tomar consciência dos mecanismos da exclusão assimétrica. A validade é alcançada por meio de uma comunidade de vítimas que participam simetricamente nos acordos sobre o que lhe toca e sendo fundamentado por uma argumentação racional e motivado por uma solidariedade. A validade dos acordos se estabelece em três níveis: a crítica material, a crítica formal e o da crítica instrumental ou factibilidade ética.

Para DUSSEL (2002) todo projeto alternativo deve vir da comunidade simétrica das vítimas, alcançando, portanto, a validade intersubjetiva crítica. É por meio desta intersubjetividade crítica,  que a comunidade deverá compreender as causas da negatividade das vítimas e desenvolver alternativas materiais positivas. É, por meio de tais premissas que a ética da libertação, a ética da vida humana se concretiza. O que DUSSEL (2002) nos oferece são diretrizes para pensar um agir ético empresarial mais responsável pela vida humana, uma responsabilidade denominada pelo autor acima de uma ética de responsabilidade radical.


[1] Para melhor conhecer a respeito do debate em torno de identidades culturais recorrer a: Canclini (1995) e Hall (1997).

[2] As Políticas de Ação Afirmativa buscam promover o acesso de grupos identitários tradicionalmente marginalizados em diversos setores de nossa sociedade, sejam estes, educacionais, políticos, empresariais entre outros, numa tentativa de democratização efetiva destes espaços. Como exemplo temos as reservas de vagas no ensino superior em determinadas Instituições de Ensino para negros pardos, deficientes físicos, povos indígenas entre outros, assim como as reservas para mulheres em partidos políticos.

 [3]  DUSSEL, Enrique. Ética e Libertação na Idade da Globalização e da Exclusão. Trad. Ephraim  F. Alves et al. Petrópolis: Vozes, 2002

 

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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