Empreendedorismo e Inovação Gestão de Projetos

Relatos do II Simpósio de Gestão de Projetos Aplicados à Pesquisa Científica

Hospital Albert Einstein e Fundação Getúlio Vargas  – Evento realizado nos dia 9 e 10 de Agosto de 2012.

O evento abordou a gestão de projetos focada na pesquisa científica e na gestão da ciência. O Simpósio teve como objetivo demonstrar, por meio de palestras, estudos de casos e workshops, como a prática da gestão de projetos, pode agregar valor à pesquisa científica, tendo como referência as boas práticas do PMBOK.

A organização do evento contribuiu, sobrenamaneira, para a discussão na área, uma vez que elencou para a discussão, condutas ainda pioneiras no âmbito nacional para a gestao de projetos de pesquisa e de portifólio de projetos científicos. Também abordou particularidades da sua aplicação em projetos de pesquisa & desenvolvimento, pesquisa cientifica, gerenciamento de riscos em pesquisa, gestão de projetos no âmbito do financiamento para a pesquisa, bem como a utilização de ferramentas de TI para controle da pesquisa e obtenção de indicadores de desempenho.

Para o Superintendente de Pesquisa do Hospital Albert Einstein, Doutor Luiz Vicente Rizzo, “a idéia tem valor agregado e na pesquisa, no Brasil, ainda é mais importante projetar e ter cronogramas que sejam viáveis […]. O cientista passa a ter como interlocutor o administrador”. Para Rizzo, o cientista tem uma mente ebuliente e as ferramentas usadas no meio econômico passam a ser importantes, principalmente no que se refere ao planejamento das ações. Segundo ele “[…] planejar no Brasil não é nosso forte, este é o primeiro ganho, é o ganho óbvio!”

Vale parabenizar e agradecer a equipe organizadora do evento e destacar o nome de Cora Hors (Coordenadora de Projetos Científicos do Hospital Albert Einstein e ex-aluna e orientanda da Profa. Dra. Ana Paula Arbache) e do Prof. Edmarson Mota Bacelar (Coordenador do Curso de MBA em Gerência Estratégica e Econômica de Projetos da Fundação Getúlio Vargas – também organizadora do evento).

No dia 9, o Prof. Edmarson iniciou as atividades da manhã abordando o tema: “A sociedade do conhecimento e o “Boom” de Projetos”.

A Prof. Dra. Ana Paula participou do evento e trouxe o relato das atividades, que este blog apresenta aos leitores e profissionais interessados em gerenciamento de projetos.

Três textos farão parte destes relatos e serão publicados em sequencia neste blog, sendo estes:

1-     Apresentação e relato da Palestra: Sociedade do conhecimento e o Boom em projetos”- Edmarson Mota (FGV)

2-     Relato da Mesa Redonda: O gerenciamento de projetos de pesquisa do ponto de vista dos órgãos financiadores: Moderador: Jorge Kalill – Instituto Butantan – Jailson Correia – DECIT – Carlos Henrique de Brito Cruz – FAPESP – Paulo Sérgio Lacerda Beirão –CNPq

3-     A)Relato da Apresentação: O papel das instituições de apoio ao gerenciamento de projetos relatados por Raphael Albergarias Lopes –IPMA e Otávio Martins Nese – PMI.

B)Relato da Apresentação: Gestão de pesquisa no Instituto do Cérebro da SBIBAE abordado por Edson Amaro Jr – InCe/SBIBAE

Apresentação do Simpósio

 Para organizadores Cora P. Hors (IIEP/SBIBAE) e Luiz Vicente Rizzo (IIEP/SBIBAE) o Simpósio tem o valor agregado e, para pesquisa no Brasil, ainda é mais importante. Para os mesmo é necessário projetar e ter cronogramas, que sejam viáveis para prazos de  execução e de custos.

“O cientista tem uma mente ebuliente e é ai que a utilização de ferramentas que se usa no meio econômico, passam a ser importantes para nós – precisamos planejar e no Brasil, planejar não é nosso forte – este é o primeiro ganho, é o ganho óbvio”, como comentou Rizzo. Segundo ele,  “O cientista passa a ter como interlocutor o administrador”

O Simpósio apresenta a  hora que os profissionais buscam e conseguem obter um diálogo, onde a conversa tem áreas de interseção, áreas em comum e isto passa a ser uma solução. Como exemplo, o  atraso na importação – “No Einstein estamos conseguindo ter bons resultados, com os quais não tínhamos há tempos atrás”.

Para Hors é hora de apresentar as lições aprendidas e difundí-las a outras instituições, que tem o foco nos projetos científicos.

Palestra: Sociedade do conhecimento e o Boom em projetos

Edmarson Bacelar Mota – Coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Projetos da FGV – Componente da Equipe Organizadora do Simpósio.

O Prof. Edmarson Mota traçou um panorama da sociedade  do conhecimento e da relevância da gestão de projetos para dar suporte a esta sociedade, que percorreu um trajeto histórico, social e econômico. Mota apresentou três diferentes etapas deste trajeto e abordou que hoje, esta sociedade do conhecimento nos desafia a percorrê-lo com outras demandas, competências e entregáveis capazes de gerar um futuro promissor para nosso país.

Primeiramente, Mota comentou a respeito do cenário de formação dos profissionais dos gerenciamento de projetos, ressaltando que, atualmente, há na Fundação Getúlio Vargas, 230 turmas ativas  de MBA nesta área, evidenciando que está consolidada uma tendência. Para o mesmo, isto significa que a gestão de projetos, “cabe”  no contexto da sociedade do conhecimento.

O discurso de Mota traz as peculiaridades pertinentes ao gerenciamento de projetos, fazendo um paralelo entre as demandas passadas e os desafios trazidos pelas demandas contemporâneas. Para promover uma “transposição didática” para o tema, sabiamente utilizou o exemplo do “gerenciamento de um churrasco”, ou seja, antigamente organizávamos um churrasco para 15 amigos, em curto espaço de tempo e com um orçamento previsível.

Hoje temos que fazer “um churrasco” para 5 mil pessoas, no mesmo prazo, mas tendo que gerenciar uma série de fornecedores, tomar decisões que possam estar alinhadas às necessidades dos “convidados”, antecipar e estar preparado para dar respostas aos riscos envolvidos no evento, tratar com diferentes sujeitos e garantir a satisfação de todos os envolvidos. Este exemplo serviu de traço de aproximação entre, o que era até então  um projeto simples de se gerenciar, para uma sociedade e, particularmente um país em crescimento, que precisar gerenciar seus projetos para o “mundo”. Como disse Mota:

“Antes nós tínhamos que fazer um  churrasco para 15 pessoas, no Brasil hoje é churrasco  para 5000 mil pessoas e o mundo espera que nós saibamos fazer!  […] e tudo que envolve o evento. A gestão é o grande entrave – se não houver gestão, tudo ficará sofrido – e tem gente que não tem suporte emocional para aguentar e abandonam. Temos que, de fato, ter uma idéia mais orientada a projetos.

Utilizando deste recurso didático, o Prof percorreu particularidades do tema, como valores em gerenciamento de projetos, gerenciamento de stakeholders, perfil do gerente de projetos, liderança institucional, gerenciamento de recursos humanos, gerenciamento da comunicação, motivação e estudos e práticas que fazem parte dos enfoques atuais em gerenciamento de projetos. Também trouxe aproximações de literaturas específicas para compor sua argumentação frente à temática.

Mota argumenta que, muitas vezes em projetos, temos que tomar cuidado com os nossos valores – traduzir o significado correto com nossos stakeholders – para não ferir nenhum deles e conhecer melhor as questões culturais que envolvem o meio ambiente. (Seja projeto de aplicação de uma nova metodologia ou de um novo produto).

Para gerenciar projetos é preciso ter um perfil diferenciado. Uma das características de quem gerencia projetos. O gestor deve estar preparado para lidar com o erro permanentemente.“Em projetos costuma tudo dar errado e de vez enquanto dá certo e a medida que você avança vai construindo o projeto”.

O perfil deve envolver uma alta estima mais elevada, pois o gerente enfrenta o erro de frente e desafia este erro para entregar um produto de qualidade. Dentro do contexto de projeto é preciso ter a coragem necessária e orientar para buscar a fonte da coragem e a fonte da serenidade. Também é necessário saber onde ter uma e onde ter a outra, para tomar a decisão qualitativamente mais justa e adequada ao contexto.

Mota nos lembra que a sociedade demanda trabalho em equipe, pois hoje atuamos em diferentes contextos. Um exemplo que é possível eleger, são os projetos em diferentes países, mantendo equipes atuando em 24 horas diretas de trabalho dentro de um projeto. Esta  é uma questão de competição, uma vez que  temos necessidade de trabalho em equipe e comunicação intensa. O  brilho individual está cada vez mais difícil, é preciso que todos façam parte dos resultados.

O desafio é trabalhar em equipe e isto é um desafio para nós, pois temos que dar maior atenção ao coletivo. Este é um foco importante quando lidamos com pessoas muito talentosas e pessoas muito inteligentes, que trazem junto o ego e o talento. Em seu relato, Mota descreve, quanto maior o nível intelectual das pessoas, maior a necessidade do gerenciamento das vaidades dentro dos projetos, pois talento muitas vezes vêem com o ego. O gestor precisa ter clareza para saber qual a melhor forma de atuar e se adequar a diferentes contextos e sujeitos.

O gestor de projetos precisa estar preparado para fazer uma análise comportamental dos sujeitos envolvidos em sua equipe. Hoje temos a composição mista de equipes, com sujeitos de diferentes perfis gerações, outra demanda evidente para entendimento deste profissional.

Mota aconselha que o gerente “trate os outros, como gostariam de ser tratados, e  procure entender o jeito de cada pessoa – o princípio de igualdade é do respeito. Procure entender como cada pessoa é, segundo ele: “A maneira como você lida, sabe como você tem que ajustar. O gestor deve estar preparado para saber usar o estilo certo e ter uma comunicação mais adequada, estando sempre atento a questão da comunicação

A motivação também permeia o trabalho do gerente de projetos. Boa parte do  trabalho de um gerente de projetos é manter as pessoas motivadas. Este profissional pode estimular seus liderados, por meio de um ambiente adequado, do reforço correto, do domínio dessas técnicas de relacionamento que irão sustentar o esforço dos envolvidos. Tais atitudes podem  fazer com que a pessoa persevere, sendo esta atitude necessária em projetos de longo prazo, que podem sofrer abalos no decorrer da sua trajetória. O gerente deve estar focado e dedicado, pois é preciso determinação intensa para conseguir bons resultados.

No caso do projeto pesquisa, há uma especificidade maior, uma vez que lidamos com a impossibilidade, a incerteza frente ao resultado, “Se eu vou conseguir descobrir o que eu procuro”!

A nossa sociedade vivencia hoje um boom em projetos, pois necessita do capital humano e intelectual para gerar renovação e criação, novos materiais para saúde, estética, lazer, ou seja, trazer novos produtos de consumo e abastecer o setor de serviços.

Quando falamos em projetos, falamos das características de uma sociedade. As coisas estão se renovando e estamos diante de uma sociedade que esta apresentando um boom em projetos – exemplo: Setor de óleo e gás – projetos de grande porte […].Temos que de fato, ter idéias mais orientada a projetos.

Neste sentido é preciso alertar que existe um outro lado chamado gestão,  agora nós temos que fazer de modo diversificado a coordenação das pessoas e os conflitos entre elas.

Esta gestão também traz a pressão de custo e tempo (sempre o menor possível).

O gestor de projetos trabalha junto com gestão da Instituição, composta por  competências técnicas, competências de gestão, competências humanas, custos e gerenciamento das parcerias. Desta forma, ligando o  capital humano, com estratégia da empresa. Para Mota “É uma gestão na complexidade. A boa gestão fará com que eu otimize os conflitos e melhores custos e prazos”.

O gerente de projetos deve estar atento a assertividade, ao feedback, a empatia, a motivação, a comunicação, a tolerância,  a frustação,  e para atrair e reter capital humano.

Para Mota, quando falamos em projeto de pesquisa, temos que associar a dimensão cognitiva, junto com o desafio da complexidade, que é o de lidar com muitas variáveis. “Não é churrasco que qualquer um faz”!

Nestes projetos, a liderança é a grande energia para agir coletivamente com os diversos sujeitos envolvidos. A liderança institucional, a gestão dos projetos, os pesquisadores e as pessoas chaves do projeto devem agir de modo integrado.

Os projetos de pesquisa são projetos de alta complexidade e alta incerteza. Mota comenta que é uma liderança  mais política e diplomática e deve ter um comitê de técnicos capaz de auxiliar no planejamento das ações e a  tomada de decisões. Nesta discussão, também está instalada os papéis dos cientistas e o papel contributivo do gerenciamento de projetos e/ou de um escritório de projetos para gerenciar e apoiar as pesquisas realizadas nas instituições (sendo este debate apresentado na mesa redonda moderada pelo Dr. Jorge Kalill e contou com a presença de representantes do CNPq, CAPES, FAPESP – o relato desta mesa redonda será o próximo relato do Simpósio publicado neste blog).

Para finalizar, Mota trouxe à tona o momento atual e as tendências nos estudos e práticas em gerenciamento de projetos e que seguem abaixo descritos:

  • Implementação de metodologias
  • Escritório de projetos
  • Gestão do portfólio de projetos
  • Gestão de riscos (negócios, projetos e operacionais)
  • Inovação e gestão do conhecimento (desenvolvimento de pesquisa e organizações)
  • Projetos radicais – Extreme Project ou XP (criar metodologias alternativas)
  • Abordagem “diamante” – novidade, complexidade, tecnologia e ritmo (lida com variáveis e a partir daí constrói a metodologia – a partir de requisitos)
  • Design Thinking (pensar como os grandes designers – emular – tentar entender o processo de pensamento)
  • Metodologias ágeis. (metodologias mais simples para projetos menores)

Mota alerta que o gerenciamento de projetos não é “Só moda, é uma tendência”.  Os profissionais da área representam um parcela da população com muita responsabilidade em nosso país.

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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