Empreendedorismo e Inovação Mercado

Caças: Soberania, Inovação e Indústria de Ponta Para Brasil

Após mais de uma década, a concorrência para a compra de caças a jato da Força Aérea Brasileira (FAB) chega ao fim, com o sueco Gripen NG, como vencedor. Serão investidos aproximadamente 4,5 bilhões de dólares na aquisição destes aviões militares. A premissa primária pela qual se fará este investimento, é garantir a soberania do espaço aéreo brasileiro. Porém em uma região onde existem poucos conflitos entre as nações, é necessário o gasto de tantos recursos?

A aquisição do Gripen NG pela FAB envolve não só a compra dos equipamentos, mas também a transferência de tecnologia da produção dos caças para a Embraer, onde os mesmos serão construídos e também desenvolvidos, visto que o Gripen NG ainda é ainda um projeto. A Suécia, diferente dos outros concorrentes (Dassault (Francesa) e Boeing (Norte Americana)) que já possuíam aviões desenvolvidos e em uso, irá transferir, não apenas o processo produtivo, mas parte do desenvolvimento, além do código fonte que gerencia a aeronave e seus armamentos. Ao dominar o processo de desenvolvimento e know how do código fonte, o Brasil poderá integrar qualquer equipamento ou armamento nacional ao avião, sem depender da SAAB, ou permissão do governo sueco. Portanto, dois podem ser os benefícios diretos da aquisição dos caças: (I) Por ser um avião de baixo custo, a Embraer, que irá fazer parte do processo de desenvolvimento e posterior produção, poderá exportá-lo para diversas nações com baixo orçamento na área de defesa. A Embraer poderá ainda, junto à venda dos caças, oferecer pacotes com outros aviões desenvolvidos por ela, como o de treinamento (Super Tucano que já foi adquirido pela FAB, pela Força Aérea Norte Americana, pela Colômbia e por outros 10 países), o de transporte (KC-390 – em desenvolvimento, com intenções de compras por 6 países, incluindo a FAB) e alerta antecipado (R-99, usado pela FAB, que usa aniônicos suecos, já testado e exportado para países com Índia, México e Grécia), agregando valor ao processo comercial e estratégico. (II)Ao dominar o código fonte, a indústria nacional de defesa, irá se beneficiar diretamente. Empresas como a Mectron e Avibrás, que já produzem mísseis e bombas inteligentes, poderão ter liberdade de integrar armas ao avião, criando produtos de baixo custo que possam ser vendidos junto ao avião, beneficiando diretamente a toda a indústrias nacional.

Existem ainda três benefícios indiretos que poderão ser observados, sendo eles: (I) Ao desenvolver uma indústria tecnologicamente avançada e de alto valor agregado, que é uma das características do segmento de defesa, o Brasil reduz a dependência de bens primários, protegendo o país da volatilidade que os commodities sofrem no mercado internacional. (II) Com a redução da fecundidade, que irá diminuir nos próximos anos a População Economicamente Ativa (PEA), haverá por consequência, redução da força de trabalho, com diversas consequências negativas, como a redução de arrecadação da previdência. A redução da fecundidade somada ao aumento da expectativa de vida da população traz a necessidade de incremento na poupança interna e no valor da contribuição per capta para o INSS. Cadeias de produção com alto valor agregado, como a de defesa, poderão aumentar tanto a poupança interna, como a arrecadação individual do contribuinte, pois haverá ganho no valor da renda, devido à exigência de maior qualificação dos profissionais, natural de segmentos de alta tecnologia e de inovação. (III) A baixa produtividade do trabalhador brasileiro, que equivale hoje a 20% do norte-americano, poderá ser modificada, com a exigência de profissionais mais preparados, que é natural em uma indústria voltada para tecnologia e inovação. Haverá, com isso, ganho na importância do Capital Intelectual no Brasil, exigindo educação mais estruturada e qualificada, que vai ao encontro da recente aprovação do repasse de 75% dos royalties do pré-sal para a educação. O Brasil já vem buscando ampliar sua capacidade de qualificação em iniciativas pontuais, como a ampliação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) com investimentos em um centro de inovação e parcerias do ITA com o Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Por fim, a tecnologia transferida não será utilizada exclusivamente para a construção de armamentos. Os caças usam tecnologias que podem ser aproveitadas em aviões comerciais, helicópteros, lançadores de satélites, navios, lanchas offshore, plataformas de petróleo, carros, entre outros, que também usam componentes de navegação por geoposicionamento, sistemas de detecção por infravermelho, materiais compostos, radares, etc. Estas tecnologias críticas poderão ajudar o Brasil a desenvolver outras indústrias inovadoras e de ponta, essenciais para viabilizar, por exemplo, o pré-sal e o transporte aéreo brasileiro, que é um dos grandes gargalos logísticos nacional.

A tecnologia gerada pela compra dos caças pode ser um dos pilares que o Brasil precisa para alcançar uma indústria inovadora, podendo proporcionar o salto tecnológico necessário para o país desenvolver a sua própria corrida espacial.

Fernando Arbache

Fernando Arbache

Mestre em Engenharia Industrial PUC/Rio. Independent Education Consultant working with MIT Professional Education. Graduado em Engenharia Civil, UFJF. Data and Models in Engineering, Science, and Business/MIT, Cambridge, MA (USA). Challenges of Leadership in Teams/MIT, Cambridge, MA (USA). Data Science: Data to Insights/MIT, Cambridge, MA (USA). AnyLogic Advanced Program of Simulation Modeling/Hampton, NJ (USA). Experiência Acadêmica: Educational Consultant working with MIT. Instructor in Digital Courses at MIT Professional Education in Digital Transformation and Leadership in Innovation. Atuou cimo coordenador da FGV em cursos de Gestão. Atuou como professor FGV, nas cadeiras e Logística, Estatística, Gestão de Riscos e Sistemas de Informação. Professor da HSM Educação, IBMEC e FATEC. Livros escritos: ARBACHE, F. Gestão da Logística, Distribuição e Trade Marketing. São Paulo: Ed. FGV, 2004. ARBACHE, F. Logística Empresarial. Rio de Janeiro: Ed. Petrobras, 2005. ARBACHE, A. P. e ARBACHE, F. Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos. São José do Rio Preto- SP: Raízes Gráfica e Editora, 2012. Pesquisa: Desenvolvimento de modelos de mapeamento de Competências Comportamentais e Técnicas, por meio de gamificação com uso de Inteligência Artificial, utilizando Deep Learning e Machine Learning (http://www.arbache.com/mobi). Programa de Inovação com 75 cooperativas de diversas áreas de atuação e aproximadamente 500 participantes, com Kick-off no MIT PE (http://www.arbache.com/inovacoop). Desenvolvimento de Inteligências nos dados e métricas - Big data e precisão nas tomadas de decisões na gestão de pessoas. Experiência Profissional: CIO (Chief Innovations Officer) da empresa Arbache Innovations especializada em simulação, inovação com foro em HRTech e EduTech – empresa premiada no programa Conecta (http://conecta.cnt.org.br) como uma das 5 entre 500 startups mais inovadoras da América Latina. Acelerada pela Plug&Play (https://www.plugandplaytechcenter.com) em Sunnyvale, CA – Vale do Silício entre novembro e dezembro de 2018. Desenvolvimento de parceria com o MIT – Massachusetts Institute of Technology para cursos presenciais e digitais – http://www.arbache.com/mitpe, https://professional.mit.edu/programs/digital-plus-programs/who-we-work & https://professional.mit.edu/programs/international-programs/who-we-work

2 Comentários

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  • Caro Arbache.

    Realmente muito interessante o seu artigo. Enfoca de forma objetiva, sem devaneios ufanistas ou sem fundamentos, as vantagens de um projeto que nao prioriza o rearmamento como muitos divulgam, mas o desenvolvimento tecnológico do país.
    Estive fora do país, mas já voltei para o DCTA, espero em breve podermos nos encontrar e colocar o papo em dia.
    Um forte abraço.

    La Sagra

  • Olá La Sagra. Concordo com você. O maior ganho que teremos será na absorção de tecnologia. Este é o maior mérito deste projeto. Vamos nos falar sim. Estou no ITA todas as quintas. Abraços