Empreendedorismo e Inovação Mercado

A Imaginação Desconstruindo A Razão

A tecnologia mudando hábitos, desejos e necessidades

Mente humana. O cérebro humano é uma das ferramentas mais complexas desenvolvidas pela natureza. Ele contém cerca de 100 bilhões de neurônios ligados por mais de 10.000 conexões sinápticas.

 Esta incrível máquina de imaginar foi responsável pela criação do telescópio que está desvendando o infinito do universo; a internet que nos permite o entretenimento, além de possibilitar o conhecimento e a comunicação entre pessoas dos mais diversos lugares do mundo. Este dispositivo de pensar ainda permitiu a criação de obras majestosas como A Primavera de Botticelli, Guernica de Pablo Picasso e o Lavrador de Café do paulista Candido Portinari, isso sem falar nas belas sinfonias como As Quatro Estações de Vivaldi e o Trem Caipira do brasileiríssimo Heitor Villa Lobos.

A ciência, criada pela mente humana, salva vidas com o antibiótico, transplante de órgãos e todas as suas fascinantes descobertas que ainda estão por vir e nos permitem sonhar com a cura de dos males. Entretanto, esta mente que criou maravilhas também desenvolveu armas, o medo, ideias sombrias que desencadearam guerras que mataram milhões em conflitos pelo mundo.  Gerou eventos insanos como os campos de concentração de judeus e a destruição das torres gêmeas em Nova York.

Ao mesmo tempo em que a mente pode criar, pode também destruir. Essa incoerência nos impossibilita compreender como as pessoas pensam, o que elas desejam ou imaginam. A previsibilidade é baseada apenas em suposições, pois nunca se sabe o que, de fato, iremos necessitar no próximo amanhecer.

Uma pergunta tola pode ser respondida das formas mais diversas. Pergunte a um grupo de pessoas escolhidas ao acaso na rua o que, para elas, seria bonito, feio, certo ou errado. Ou então o que é a razão?

Para cada uma das perguntas acima serão escutadas as respostas mais diversas possíveis. Esta diversidade cultural de pensamento é uma das características do ser humano que vive criando e mudando as coisas ao seu redor. Imaginar é uma das funções mais complexas e ricas de uma mente humana, que nos permite buscar soluções, construir obras de arte e sinfonias que marcam nossas vidas. No entanto, racionalizar nos coloca no chão, nos permite tornar concretos nossos desejos e, muitas vezes, nossa imaginação.

Os filósofos racionalistas definem a razão como oposto da imaginação. Enquanto empregar a imaginação é criar, segundo a perspectiva do indivíduo, não havendo regras nem leis para isso, a razão é representar os objetos segundo suas qualidades primárias, ou seja, em sua forma física, calculada, mensurada. Tanto assim que o termo “razão” vem do latim rationem, que significa cálculo, conta, medida, regra.

 Se partirmos da análise anterior, apesar de a razão suscitar algo exato, podemos nos questionar sobre sua exatidão apenas analisando alguns hábitos alimentares. Uma pessoa, por exemplo, que come escorpião ou baiacu, está dotada de lógica visto que ambos são venenosos? Apenas como título de curiosidade, o baiacu possui um poderoso veneno – o cianureto – que mata um ser humano se o mesmo ingerir apenas 1ml do veneno.O baiacu é chamado de Fugu no Japão. Ele é considerado “o peixe dos peixes” entre os aficionados por sushi devido ao seu paladar, porém se ele não for cortado com perfeição, o veneno (localizado no fígado, nos genitais e no intestino) pode matar. Já o escorpião é considerado uma especiaria chinesa e, em muitas regiões, são comidos vivos.

Em nosso ponto de vista, há uma lógica racional nas pessoas que se alimentam de escorpião ou baiacu? Porém do ponto de vista dos japoneses e dos chineses, o que há de errado em se alimentar de algo que há séculos faz parte de seus cardápios? Por outro lado, o que um indiano pensa quando nos vê comendo um suculento churrasco, uma vez que para eles a vaca é um animal sagrado?

A regra ou lógica de uma pessoa pode ser diferente de outra, pois a mesma está baseada em sua vivência, no meio em que a mesma foi criada e educada. Se pegarmos pessoas de diferentes pontos do planeta, é bem provável que tenhamos lógicas totalmente distintas para avaliar e analisar determinado evento.

Vamos acrescentar nesta construção que estamos fazendo mais algumas variáveis.

 Na década de 80, viajar para outro país era algo caro e para poucos. A comunicação entre duas nações poderia ser feita por carta ou telefone. Mas para enviar uma carta ou telefonar para alguém, era necessário primeiro conhecer esta pessoa, pois como enviar carta ou telefonar para um desconhecido?

Atualmente, em meu blog, aproximadamente 40% dos leitores são de outros países, sendo que alguns mantêm contato comigo por mail, ou Skype. Algumas dessas pessoas são provenientes de países com os quais eu nunca havia imaginado um contato como, por exemplo, Eslovênia, Rússia ou Cingapura. Não tenho nenhum grau de relacionamento ou parentesco com estes indivíduos que se comunicam comigo, porém nossas conversas são mais profundas, intensas e frequentes do que com muitos de meus vizinhos, que vejo quase que diariamente, mas nossa comunicação não passa de um “bom dia”, “boa noite” ou quando estamos mais inspirados “que trânsito horrível hoje, não é?”.

Para complicar esta análise, os meus textos no blog são todos em português, sendo que nenhum destes leitores com os quais me comunico falam, além de sua língua materna, o inglês. Como eles compreendem os textos? Simples: Google Translate. Como me acharam? Twitter. Como se comunicam? Skype ou facebook. Hoje, posso dizer, com uma certa propriedade, como é o dia a dia de um esloveno em Liubliana, a capital do país. Sei onde ficam os melhores bares, as melhores cervejas, que segundo me disseram é a Cerveja Zlatoro, fabricada há 170 anos, entretanto, eu nunca estive na Eslovênia.

Qual a diferença que temos hoje em relação à década de 80? Hoje a tecnologia nos permite viajar, conhecer, compreender, experimentar novas culturas e experiências, sem, no entanto, sair do lugar. Possibilita-nos aproximarmos de pessoas das mais diversas culturas existentes no planeta. Estas novas vivências, muitas vezes, nos fazem abraçar novas ideias e torná-as também nossas.

Diante deste cenário, o que podemos pensar a respeito dos hábitos de consumo das pessoas? Como elas tenderão a evoluir ao longo do tempo? Qual o modelo que mais representa esta mudança?

 Os modelos matemáticos têm uma característica de dimensionar as pessoas, assim como seus desejos da forma mais linear e previsível. Apresentam uma racionalidade baseada em fatos e na sustentabilidade da razão de um grupo de pessoas. Portanto a razão é um dos pilares para a construção dos modelos.

Voltemos ao baiacu. Quantos brasileiros, indonésios, angolanos, chineses, franceses, suecos já experimentaram o sushi de baiacu e o elegeram como uma iguaria? Milhares. Se isso ocorrer de forma frequente, com mais produtos, ou seja, inserindo, no dia a dia dos indivíduos, uma diversidade de sabores cada vez maior, como fica a linearidade de hábitos? Como poderemos modelar matematicamente um ambiente que poderá mudar repentinamente e de forma extremamente aleatória?

A extrema democratização da informação disseminada pela evolução contínua da tecnologia de comunicação vem propiciando às pessoas a chance de experimentar o que antes era inimaginável. Diante disso, como pensar no futuro em um ambiente onde ninguém tem a menor ideia do que deseja ou necessita, pois não sabe o que poderá surgir no dia seguinte?

A razão esta vinculada a emoção? Experimente um delicioso sushi de baiacu e perceberá que existem dois lados da lógica. Então vivencie, experimente, sinta, perceba, aprenda e mude, pois é isso que o mundo pós-moderno tem nos oferecido de melhor.

Fernando Arbache

Fernando Arbache

Mestre em Engenharia Industrial PUC/Rio. Independent Education Consultant working with MIT Professional Education. Graduado em Engenharia Civil, UFJF. Data and Models in Engineering, Science, and Business/MIT, Cambridge, MA (USA). Challenges of Leadership in Teams/MIT, Cambridge, MA (USA). Data Science: Data to Insights/MIT, Cambridge, MA (USA). AnyLogic Advanced Program of Simulation Modeling/Hampton, NJ (USA). Experiência Acadêmica: Educational Consultant working with MIT. Instructor in Digital Courses at MIT Professional Education in Digital Transformation and Leadership in Innovation. Atuou cimo coordenador da FGV em cursos de Gestão. Atuou como professor FGV, nas cadeiras e Logística, Estatística, Gestão de Riscos e Sistemas de Informação. Professor da HSM Educação, IBMEC e FATEC. Livros escritos: ARBACHE, F. Gestão da Logística, Distribuição e Trade Marketing. São Paulo: Ed. FGV, 2004. ARBACHE, F. Logística Empresarial. Rio de Janeiro: Ed. Petrobras, 2005. ARBACHE, A. P. e ARBACHE, F. Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos. São José do Rio Preto- SP: Raízes Gráfica e Editora, 2012. Pesquisa: Desenvolvimento de modelos de mapeamento de Competências Comportamentais e Técnicas, por meio de gamificação com uso de Inteligência Artificial, utilizando Deep Learning e Machine Learning (http://www.arbache.com/mobi). Programa de Inovação com 75 cooperativas de diversas áreas de atuação e aproximadamente 500 participantes, com Kick-off no MIT PE (http://www.arbache.com/inovacoop). Desenvolvimento de Inteligências nos dados e métricas - Big data e precisão nas tomadas de decisões na gestão de pessoas. Experiência Profissional: CIO (Chief Innovations Officer) da empresa Arbache Innovations especializada em simulação, inovação com foro em HRTech e EduTech – empresa premiada no programa Conecta (http://conecta.cnt.org.br) como uma das 5 entre 500 startups mais inovadoras da América Latina. Acelerada pela Plug&Play (https://www.plugandplaytechcenter.com) em Sunnyvale, CA – Vale do Silício entre novembro e dezembro de 2018. Desenvolvimento de parceria com o MIT – Massachusetts Institute of Technology para cursos presenciais e digitais – http://www.arbache.com/mitpe, https://professional.mit.edu/programs/digital-plus-programs/who-we-work & https://professional.mit.edu/programs/international-programs/who-we-work

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