Carreira Coaching

Um Passeio Pelo Nevoeiro do Coaching – Parte 2

Marcos Bidart de Novaes
Doutor em Gestão Humana e Social em Organizações pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Consultor em Desenvolvimento Humano e Professor em MBA´s da Fundação Getúlio Vargas
Sócio da Potenciar Consultores Associados
marcos@potenciar.com

Você que leu a primeira parte deste artigo sabe que paramos no momento em que prometíamos apresentar diferentes metodologias, técnicas e ferramentas e também, afirmar o que torna um processo de Coaching bem-sucedido. Então vamos lá.

Metodologias de Coaching

Você que quer logo as ferramentas, calma. Ainda estou falando de metodologias e não de ferramentas. Ferramenta, coisa tão desejada por profissionais de diversas áreas é outra coisa. Ferramenta é uma chave de fenda, que pode ser usada para apertar parafuso de carro, construir uma casa ou até abrir uma garrafa. O problema das ferramentas é que para quem só tem martelo todo problema é prego.

O que é uma metodologia então: “A metodologia refere-se a mais do que um simples conjunto de métodos, mas sim refere-se aos fundamentos e pressupostos filosóficos que fundamentam um estudo particular.” https://pt.wikipedia.org/wiki/Metodologia

Ou seja, por trás de toda maneira de praticar Coaching existem diferentes pressupostos e paradigmas. Vamos abaixo elencar aqueles que apareceram durante nossa pesquisa colaborativa e outros que acrescentei. Para cada um uma rápida definição que aparece na internet e sua fonte, escolhidas pelo fato de fazerem um mínimo de sentido.

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…por trás de toda maneira de praticar Coaching existem diferentes pressupostos e paradigmas.

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Coaching Comportamental: O Coaching comportamental é um processo de aceleração de alcance de resultados onde são aplicados os princípios básicos da Ciência do Comportamento. Nesse processo, são utilizados conhecimentos e procedimentos para promover mudanças comportamentais, obter e sistematizar informações que servirão de base para avaliar resultados.

NeuroCoaching ™ : O NeuroCoaching é a junção das práticas do Coaching com o conhecimento da neuroanatomia. Através do NeuroCoaching é possível potencializar suas capacidades mentais e desenvolver novas habilidades neurológicas.

Coaching com PNL: A maioria dos sites que usa esta nomenclatura explica o que é Coaching e o que é PNL. Vale à pena ler

Coaching Integral Sistêmico: Processo de condução lógica e cognitiva que identifica inicialmente o Estado Atual através de uma completa, profunda e constante anamnese, depois busca identificar os objetivos e onde a pessoa /organização quer efetivamente chegar. Para então conhecendo os fatores impeditivos e facilitadores, traçar um completo plano de ação para levar o cliente do ponto inicial ao ponto desejado.

Coaching Ontológico : A “arte” de acompanhar a outros em um processo de aprendizagem que busca expandir o poder de ação, a efetividade e o bem-estar através da ampliação das interpretações que temos acerca de nós mesmos, dos outros e do mundo. Ou seja, de nossa particular maneira de habitar o mundo. O Coaching Ontológico se funda, entre outras correntes filosóficas, na Ontologia da Linguagem, que têm entre suas principais premissas que como seres humanos nos constituímos na linguagem e através dela. Entendemos que nós, seres humanos, damos sentido ao mundo por meio da linguagem, interpretamos a realidade e a nós mesmos, por meio da linguagem. Nossa história é um relato, uma história, e como tal podemos reinterpretá-la.

Coaching com Eneagrama: A maioria dos sites que usa esta nomenclatura explica o que é Coaching e o que é o Eneagrama, uma maneira milenar de ver o mundo. Vale à pena ler o site da instituição mais séria a meu ver sobre o assunto

Coaching Positivo: Baseado nos conceitos da Psicologia Positiva. Comprometida com o estudo científico das potencialidades humanas, a Psicologia Positiva agrega ao clássico papel curativo da Psicologia convencional, também um caráter preventivo, essencial quando pensamos em qualidade de vida e no desenvolvimento pleno do potencial humano. Esta propõe a mudança pessoal pela busca e intervenções de emoções positivas e o seu impacto no desempenho. O trabalho de Coaching é realizado a partir das forças pessoais, baseado também nos conceitos de Flow e Peak Performance.

Agora, as duas abordagens nas quais me especializei e às quais dou atenção especial:

Coaching Humanista: Poderosa abordagem baseada nos trabalhos de Carl Rogers e de sua teoria humanista e centrada na pessoa. Parte da premissa de que todos nós temos um potencial dentro à espera de ser revelada e que devemos colocar a serviço de atingir os nossos objetivos, sempre no respeito pela liberdade e consciência individual das pessoas. O Humanismo não aceita a ideia do ser humano como máquina ou animal, sujeito a processos de condicionamento pelo ambiente externo e por outras pessoas. O indivíduo pode e deve ter a influência sobre o meio, agindo sobre os estímulos externos para construir e organizar sua interação com seu externo. O coachee é respeitado com suas experiências e aprendizado e somente a partir de suas `construções` internas é que o aconselhador o auxilia na busca de insights que o libera para novas escolhas. Pauta-se sempre na comunicação do cliente, que é ‘trabalhada’ e na reflexão a respeito do conteúdo inserido neste universo. O método tem por objetivo permitir que o cliente tome consciência de suas ações repetitivas indesejáveis, desconstruindo padrões, tendo clareza de fatos e situações, buscando, com objetividade, ajudá-lo a construir o futuro por si desejado.

Coaching com Psicodrama: Metodologia que privilegio e sobre a qual tenho um livro escrito. O diferencial do Coaching com Psicodrama está na possibilidade de transformar a ação por meio de sua reflexão. A ação conectada ao pensar e ao sentir facilita viver os papéis e potencializa o Ser Humano nas suas relações consigo mesmo e com os outros. Ajuda o Coachee a perceber como as pessoas agem nas diferentes situações e identificar padrões de resposta, a detectar e potencializar as dinâmicas intra e interpessoais e desenvolver novas respostas adequadas, criativas e espontâneas. Propõe o desbloqueio e o desenvolvimento do indivíduo para atuar adequadamente diante de novas situações e, ter possibilidade de dar respostas novas a conhecidas situações.

Métodos usados no Coaching

Todas essas metodologias derivam em diferentes métodos que podem, no entanto, ser resumidos em: cognitivos, lúdicos e simbólicos. Ou seja, método que passam pelo pensamento, pelas emoções ou por significados ocultos para as pessoas. A meu ver os Coaches diferenciados usam os três métodos combinados, não limitando as sessões a conversas cognitivas.

Técnicas usadas no Coaching

Sei que você não aguentava mais. Chegamos finalmente às ferramentas. Estas podem ser formulários e questionários das mais diferentes linhas de assessment, jogos, leituras, filmes para discussão, story telling. Você esperou tanto para descobrir que vai precisar montar a sua própria caixa de ferramentas.

No Coaching com Psicodrama usamos além destas antes mencionadas, cenas, inversão de papéis e objetos intermediários. A proposta do Objeto Intermediário sugere a utilização de uma infinidade de materiais como música, papéis, figuras, desenhos, entre outros que aplicados sob uma diversidade de técnicas como desenhar, recortar, colar, imaginar, modelar, dentre outros, favorecem o envolvimento dos participantes, o aparecimento da comunicação (verbal e não verbal) e a expressão dos sentimentos.

Sugiro como complemento a este escrito a leitura do seguinte texto, em grande parte baseado em nosso curso de Coaching com Psicodrama: http://visagtalent.com.br/pdf/artigos/Coaching_com_psicodrama.pdf

O mais importante no Coaching

Uma vez esclarecido um pouco o nevoeiro que se criou em torno da palavra Coaching, vou revelar o mais importante. Há várias evidências científicas de que não é a metodologia aplicada que determina a qualidade de um projeto / processo de Coaching e sim o vínculo que se estabelece entre Coach e Coachee. Pretendo escrever sobre isso mais profundamente em outra oportunidade, mas, para finalizar deixo aqui em livre tradução um trecho de um artigo, cuja referência você encontra mais abaixo:

Em resumo , os resultados da pesquisa mostram que clientes de Coaching executivo percebem os comportamentos de seus Coaches como bons preditores de quão útil a experiência será, sem priorizar comportamentos específicos. Tem-se mostrado que uma ampla gama de técnicas são consideradas úteis. Não é a preferência , por conseguinte, uma técnica específica que faz a diferença , mas sim a capacidade de empregar muitas técnicas , para usá-las bem e no momento certo.
Nesta perspectiva, fatores gerais de todos os bons processos de Coaching, como a qualidade do relacionamento, a aliança de trabalho entre Coach e cliente, o sistema de apoio do cliente e a personalidade do Coach impactam mais na qualidade do processo do que comportamentos, técnicas ou modelos de Coaching.

Leia também:

UM PASSEIO PELO NEVOEIRO DO COACHING – PARTE 1

Artigo: Executive Coaching in practice: what determines helpfulness for clients of Coaching?
Autores: Erik de Haan, Vicki Culpin and Judy Curd. Ashridge Centre for Coaching, Ashridge Business School, Berkhamsted, UK
Publicado em: Personnel Review, Vol. 40 No. 1, 2011, pp. 24-44