Coaching Gestão de Pessoas

Qual a Relação Entre a Nova Legislação dos Trabalhadores Domésticos e a Carreira das Profissionais Brasileiras? Entre o Lar e o Escritório Como Gerenciar a Carreira?

Para não fugir de um tema que tem ocupado o noticiário político e jurídico, como também de alguns lares brasileiros, busquei refletir o assunto com o olhar atento, de quem está diretamente relacionada a tais discussões e medidas.

A nova regulamentação referente ao trabalho doméstico, trouxe á tona muitas dúvidas, pois coloca em xeque o dia-a-dia de mulheres trabalhadoras, que dependem destes profissionais para manterem a sustentabilidade suas rotinas de trabalho, mas ao mesmo tempo, viabilizar economicamente o contrato de trabalho com destes profissionais em seus lares.

Não é fácil falar do tema, bem como entender os novos dispositivos que propõem regulamentar os novos direitos dos trabalhadores domésticos (as quais parabenizo pelas conquistas derivadas na nova Lei). Entre explicações econômicas e jurídicas, estão donas de casas, crianças, chefes de família, em uma ponta e, em outra, estão advogados, contadores, sindicados, juízes, que buscam fazer o que chamamos em conhecimento científico, de “transposição didática” do tema em questão.

Para além das cartilhas anunciadas nos jornais, ou nos debates mais intensos nas redes sócias, o fato é que a Lei já está em vigor e isto muda muita coisa! Como mulher, mãe e profissional que vive em um grande cidade, estou diretamente envolvida, pois dependo de trabalhadores domésticos para auxiliar na rotina da casa e dos filhos. Em uma cidade como São Paulo, faz toda diferença você contar com auxilio de profissionais domésticos e esta necessidade tende a aumentar, quando a sua profissão e a rotina dos empregadores, não estão restritas a um horário fixo, podendo se estender aos sete dias da semana com compromissos em diversas cidades no Brasil e fora dele. Surge aí uma “plataforma” completamente diferente de trabalho, que não combina com os horários de creches, escolas, restaurantes, transporte infantil, entre outros serviços que atendem durante o horário normal!

Mas logo vi que tenho que aprender, é necessário amadurecer e criar outras formas de viver, já que muitas reportagens argumentam que as mulheres dos países desenvolvidos convivem com esta realidade! Por quê não aproveitar as lições aprendidas e “customizar” um novo cotidiano?

Eu já presenciei a rotina de algumas mulheres em países estrangeiros e o modo como as mesmas, prontamente assumem as obrigações da rotina da casa e dos filhos e, em seguida, rumam para seus postos de trabalho. Tudo é compartilhado e todos os membros da família fazem parte deste “acordo”, além disso, as máquinas também dão conta de facilitar o trabalho doméstico. Outro ponto importante, a sociedade e as empresas já estão “educadas” para este tipo de vida. Silvia Salek, editora chefe da BBC de Londres entrou em cena nesta discussão, para responder como vive sem empregada doméstica (Folha de São Paulo, p.B7, 05/04/2013). Rapidamente ela citou três itens de uma receita de sucesso: a) jornada fixa de trabalho (a qual não estou incluída); b) divisão igualitária de tarefas; c) adoção de padrões de arrumação e limpezas mais ingleses. Outro ponto citado pela profissional é a flexibilidade no horário de trabalho, para que pudesse buscar os filhos na escola e acompanhar com eles o período pós-escola, desta forma “não terceirizando a criação dos filhos”. Vale lembrar que, enquanto Sílvia está no trabalho, as crianças estão na escola!

Esta jornada flexível é também bem vista pela chefia, pois, segundo Sílvia os homens também requisitam maior tempo com a família. O chamado “part-time”, com o salário proporcional a jornada de trabalho é uma realidade, fazendo com que as empresas utilizem novas estratégias para reter os talentos e atender as novas demandas, focadas em um maior equilíbrio entre vida profissional e vida familiar.

O interessante neste “olhar estrangeiro” de Sílvia, é que a sua rotina cotidiana é planejada e depende dela e do marido, para que tudo possa estar no seu devido lugar. Para mulheres com eu, que possuem uma agenda de trabalho como uma verdadeira bricolagem, o desafio é um tanto maior e, por vezes, não podemos nos dar ao “luxo” de não termos por perto, trabalhadores domésticos para nos auxiliar no cotidiano da casa e dos filhos. O que fica para nós então?

Primeiro ter uma carreira capaz de dar conta das despesas que a mesma demanda (se é necessário ter trabalhadores domésticos para viabilizar esta carreira, cabe analisar os aspectos financeiros e analisar as vantagens que o investimento nesta carreira podem trazer). Em segundo: Fazer com que esta carreira possa trazer além de retorno financeiro (tangível), satisfação profissional, pois, quando estamos satisfeitas, podemos retornar para nossos lares e levar maior qualidade para nossos relacionamentos, desta forma, retornando com valores (intangíveis) derivados de nossas carreiras. Por isto finalizo perguntando às profissionais: Está nas mãos de quem escrever uma nova rotina para nossos lares e nossas carreiras? Tenham certeza de que a discussão da nova Lei dos trabalhadores domésticos é somente o start deste debate.

 

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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