Alguns projetos são imensamente complexos, sugam a nossa energia, nos trazem preocupações e fazem com que tenhamos que nos comprometer além do normal para que as atividades sejam concluídas. Mas é possível tornar esse processo mais leve, ainda que precisemos despender de muito esforço? Sim, e a resposta para isso é ter um propósito.
Introdução
Antes de iniciarmos a discussão sobre ter um propósito, vamos repassar apenas um conceito interessante a respeito de projetos que utilizam o framework Scrum. Ralph D. Stacey, professor de administração da Business School da Universidade de Hertfordshire, utilizou em seu livro “Gerenciando o que não pode ser conhecido” as implicações das ciências naturais de complexidade para compreender melhor o que ela significa.
O que são projetos complexos?
Em 1996, ele propôs uma matriz que nos ajudasse a compreender quais ações devemos realizar para gerenciar de forma adequada a complexidade com base no grau de incerteza, sendo essa a primeira dimensão.
A segunda dimensão envolve um nível de consenso a respeito de um determinado tema e é feita por um grupo. Foram inseridas na matriz quatro grandes zonas, que vão do simples ao caos, passando pelo complicado e pelo complexo, como mostra a figura a seguir:
Ao observá-la concluímos que a complexidade está na zona anterior ao caos, portanto, está cercada de incertezas e dúvidas e com alto risco de erros. Ela nos faz exercitar a mente, para que possamos desvendar causas e efeitos de algo que parecia ser imponderável anteriormente, de acordo com o framework Cynefin, de David Snowden.
Portanto, de acordo com o princípio 2 do Manifesto Ágil e por causa da interatividade e da adaptabilidade contínua – expressas no primeiro valor do Manifesto e nos pilares do Scrum -, diante de problemas complexos essa metodologia passa a ser um framework ideal. Com ela, podemos alcançar melhores resultados, devido à sua abertura a mudanças.
Por que devemos nos aventurar em projetos complexos?
Os projetos complexos estão associados normalmente a algo novo, que ainda não foi desenvolvido e que nos leva a riscos que só vamos assumir por um único motivo – ter um propósito. O propósito está associado a um senso de realização profundo em nossa vida e é como uma missão que desejamos realizar.
Com isso, podemos alcançar nossos objetivos, mesmo que eles sejam mais complexos do que aparentam ser. Ao alinhar um projeto inovador com o propósito – que pode trazer algum significado para as nossas vidas – as pessoas passam a usar seus talentos, forças e habilidades para alcançar os seus objetivos.
Também passam a ser mais resilientes, pois levantam-se a cada nova queda, ressignificando as experiências negativas e aprendendo com elas. Mas para alcançar um propósito devemos entender o que queremos alcançar, avaliar nossas crenças e olhar para o futuro.
Quando o enxergamos, a perspectiva da complexidade e de suas incertezas e riscos passam a ser menos impactantes e passam a fazer parte de nossa missão. Assim, o propósito nos traz felicidade e nos ajuda a olhar os problemas por outros ângulos.
Sonja Lyubomirsky, psicóloga, pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, descobriu que os indivíduos que são verdadeiramente felizes interpretam as experiências de vida e as situações diárias de forma que consigam enxergar algo positivo em tudo.
Por outro lado, os infelizes interpretam experiências sempre de forma pessimista. Portanto, ao ter um propósito é necessário acreditar nele e entender que podemos alcançá-lo ressignificando todos os problemas que um projeto complexo pode nos trazer.
Squads com propósito
Os projetos complexos precisam de times ou squads que estejam dispostos a suportar todos os problemas que vão encontrar em suas jornadas. Dessa forma, devemos montar equipes que tenham propósitos em comum.
Na realidade, é essencial ter pessoas diferentes e com objetivos iguais para formar squads. Assim, conseguimos ter times multidisciplinares e multiculturais, sempre comprometidos com a missão que será assumida pelo grupo.
Conclusão
Quando acreditam que seus trabalhos vão alcançar um propósito, as pessoas tornam-se mais felizes, criativas, prestativas e autoconfiantes e possuem mais autocontrole. Ou seja, a felicidade pode impactar diretamente na redução de riscos e nos resultados do squad.
Ao montar um time, procure pessoas qualificadas em áreas necessárias para o projeto, mas é importante que tenham suas mentes e corações direcionados para as mesmas crenças. Lembre-se sempre que o Scrum está baseado em pessoas, elas têm sentimentos e os expressam em todas as situações.
Referência Bibliográfica
LEMOS, M. R. Complexidade, acoplamento e criticalidade (c 2 a) como indicadores de risco em projetos de sistemas. 278f. Tese de Doutorado – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais. São Paulo. 2012.
BUCHELE, G.; SCHMITZ, L.; DANDOLINI, G. Um Plano para Gerenciamento de Projetos no Contexto da Educação a Distância no Ambiente Público. Revista de Gestão e Projetos. v. 6, n. 2. maio/ago. 2015.
SNOWDEN, David J.; Boone, Mary E. (2007). A Leader's Framework for Decision Making. Harvard Business Review. 85 (11): 68–76. PMID 18159787.
SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. São Paulo: Geração Editorial, 2011.
LYUBOMIRSKY, S. (2001). Why are some people happier than others?: The role of cognitive and motivational processes in well-being. American Psychologist, 56, 239–249.
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