Carreira da Mulher Empreendedorismo e Inovação

As dificuldades enfrentadas por mulheres que lideram Startups

As mulheres representam 51% da população total do Brasil, sendo predominantes nos cursos de graduação e pós-graduação. Chefiam 37% dos lares existentes no país e além disso, segundo Nielsen (2020), 96% das pessoas que são responsáveis pelas compras domésticas são do sexo feminino. 

Introdução

Esses números são grandes por um lado, mas por outro, mostram que elas estão sub-representadas. Há algumas pesquisas que indicam que a igualdade de gênero só chegará nos países em desenvolvimento (também conhecidos como países emergentes) por volta do ano de 2168. 

Porém, isso só ocorrerá se as mulheres passarem a optar por carreiras ligadas ao STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Segundo Nielsen (2020), hoje, somente 3% da população feminina escolhe uma profissão voltada a uma dessas quatro áreas. E, quando escolhidas, somente 34% delas se graduam. 

Por que esses números são importantes?

Porque o cenário do empreendedorismo feminino no século XXI está logo aqui. Sabemos que as transformações tecnológicas e o avanço acelerado e disruptivo delas, impõem novas competências para a força de trabalho. Além de fazer com que o ambiente de negócios se torne mais complexo e competitivo. 

O recinto inovador demanda uma atuação efetiva e ágil no mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade) e é um desafio para quem não possui os conhecimentos, habilidades e atitudes para dar conta dele.

O empreendedorismo atualmente está longe de ser amador, existem uma série de variáveis internas e externas que criam obstáculos para o sucesso do negócio. Certamente, o movimento e a cultura existentes nele estão muito mais disseminados e maduros em nossa sociedade. 

No entanto, os números retratados acima mostram que não é para todos. Lembrem-se que apenas 3% das mulheres buscam carreiras em STEM, que são ligadas diretamente ao mundo das transformações tecnológicas. 

Falo isso, porque sou empreendedora há 20 anos. Em 2000 fiz parte de uma Startup voltada para a disrupção do mercado editorial, e naquela época, tive um financiamento de uma agência e apoio de uma incubadora conhecida no Rio de Janeiro. Eu era ligada também a uma das grandes Universidades do país, e com isso, conseguimos lançar um livro virtual. 

Naquela época, havia pouquíssimas mulheres liderando Startups. O Vale do Silício trazia o “ar” de uma cultura organizacional inovadora e nos faziam acreditar que o empreendedorismo e a inovação via tecnologia eram como um “casamento perfeito”.  As únicas coisas que nós não fizemos foram: combinar com os “convidados” que eles precisavam ter uma cultura digital forte, equipamentos, acesso a internet e hábito de ler em uma tela.

Qual foi a consequência disso? 

Nós entramos para a estatística de empreendedores falidos rapidamente. Mas fica uma reflexão: depois de cair, temos que levantar e colocar a resiliência e a obstinação em dia para funcionarmos rapidamente. 

Hoje, sou sócia de uma HR Tech de gamificação e People Analytics. Já possuo 50 anos de idade e vivencio um outro ambiente de empreendedorismo não só no Brasil, mas também no mundo. Somos uma empresa com um intenso embarque de tecnologia, trabalhamos com uma cultura ágil, atendemos clientes e parceiros do mundo todo, além de possuirmos uma força de trabalho diversa.

Somos investidos por um fundo que possui um número significativo de mulheres liderando Startups. Temos também uma forte área de responsabilidade social, local onde compartilhamos nossos propósitos e ações voltados para o quarto e quinto ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.

Com isso, as coisas ficaram mais fáceis? 

Não, muito pelo contrário. Ainda temos muitos desafios, o grau de complexidade aumentou apesar de termos um ambiente voltado para o empreendedorismo, com Stakeholders preparados para abastecer esse mercado. Nós temos mais competitividade, mais risco de falir e também fazemos parte de um mundo inteiro pronto para inovar e empreender.

Isso faz com que tenhamos sempre que estar um passo à frente. Nesse tempo em que sou empreendedora, acompanhei diferentes debates em torno do tema empreendedorismo feminino. Mas, ultimamente, tenho destinado minha atenção às que são fundadoras de Startups, ou seja, que fazem parte de negócios que possuem algum fundo de investimento como parceiras. 

Mulheres que estão na governança e na discussão de processos de fusão e aquisição, e que querem alavancar seus estabelecimentos por meio de um ambiente de empreendedorismo mais arrojado. Devido a isso, chega-se à conclusão de que somos poucas, realmente sub-representadas. 

Nota-se uma lacuna cruel quando nos deparamos com algumas estatísticas, como as citadas aqui. Somente 15% das Startups brasileiras são lideradas por mulheres, pois poucas se interessam por carreiras voltadas ao STEM, não as levando para um ambiente de uso intenso de tecnologia.
Para completar, as Startups fundadas por elas recebem muito menos investimentos do que as criadas por homens, que totalizam 93% do total segundo o Women Tech Network. A realidade, infelizmente, é que houveram poucas oportunidades de empreendedorismo feminino em comparação com o masculino.

Esse cenário está mudando? 

Sim. O processo está sendo lento, mas conta com iniciativas vigorosas. É importante ressaltar que há um esforço para que esse cenário de desigualdade mude, e um exemplo disso é o programa Women Invest que tem como foco as fundadoras de Startups.

Ele é um fundo de capital de risco que conta com US$10 milhões. É administrado majoritariamente por mulheres investidoras e mais da metade delas são afrodescendentes. O objetivo dele, segundo a VentureBeat, é “interromper a paisagem antiquada e desigual do sistema de capital de risco, que normalmente preza por excluir as fundadoras de Startups”. 

Além de fornecer o capital em si, oferece também orientação e uma rede de network feminino influente para apoiar as fundadoras. Inicialmente o valor era de US$5 milhões em quatro meses. Em uma pesquisa realizada, Startups lideradas por mulheres produzem maiores retornos, como aponta o Boston Consulting Group (BCG) “Startups com uma fundadora geraram 78 centavos de receita para cada US$1 de financiamento, enquanto as fundadas por homens produziram 31 centavos.” (VentureBeat 2020). 

A PitchBook apresentou a pesquisa a respeito do painel de investimento do capital de risco em Startups com fundadoras nos Estados Unidos. Foi constatado que no ano passado, apesar dos investimentos, as lideradas por mulheres ficaram com apenas 2,6% do capital total investido no país (a pesquisa é atualizada mensalmente no site do programa). 

O que vemos para o futuro? 

Nos vinte anos que convivo com esse ambiente, vejo que temos muito a celebrar. As mulheres quebram tabus todos os dias e no mundo do empreendedorismo não é diferente. Temos empreendedoras como a Luiza Trajano, que nos inspira para um caminho possível. Também há outros exemplos de empreendedorismo feminino, jovens que tracionam seus negócios por meio do embarque das novas tecnologias e que chamam a atenção dos investidores para acelerá-los.

É o caso de Mariana Vasconcelos, da AgroSmart, que captou recentemente R$22 milhões em investimentos no ano de 2019. Debora Folloni, da Chiligum, já produziu cerca de 6,5 milhões de arquivos para grandes empresas. E a Renata Rizzi, CEO da Utopiar, uma Startup de impacto social acelerada pela aceleradora Yunnus Negócios Sociais. 

O mais importante dessa discussão, é chamar atenção para o potencial dos negócios fundados por mulheres. Devem ser deixados para trás os cenários desiguais e ultrapassados que restringem as oportunidades de crescimento dos negócios por falta de apoio e investimento. Nós estamos em 2020 e precisamos deixar para trás números tão insignificantes no que se refere aos investimentos nas Startups fundadas por mulheres. 

Conclusão

Se elas são tomadoras de decisão para o consumo, porque não podem ser tomadoras de decisão para os seus negócios? Ainda cabe nesse cenário ultrapassado, desigual e fora de moda que ronda o empreendedorismo feminino em 2020? Já passou da hora de todo o ecossistema do empreendedorismo olhar para essas questões com mais atenção!

Este artigo não tem a intenção esgotar a discussão, que é ampla e complexa. Com ele, desejo trazer um recorte exploratório e urgente para o tema, partindo do lugar que ocupo. Convido todos a conhecer a HR Tech Arbache Innovations e a página de empoderamento feminino Mundo Melhor, da Arbache Innovations.

A autora

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) – Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente convidada dos cursos de MBA FGV. Tutora da Global Alumni/Espanha. Sócia-diretora da HR Tech Arbache Innovations e responsável pelas ações de Recursos Humanos, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade, Gamification e People Analytics. Fundadora da página de empoderamento feminino “Mundo Melhor” e do Coletivo HuBMulher. Parceira WEPS/Pacto Global. Pesquisadora e autora das obras “Projetos sustentáveis: Estudos e práticas brasileiras” (2010), “Projetos sustentáveis: Estudos e práticas brasileiras II” (2011), “Sustentabilidade empresarial no Brasil: Cenários e projetos” (2012), “A crise e o impacto na carreira” (2015), “O RH transformando a gestão – Org.” (2018) e “Carreira Feminina” (2020). Certificação em coaching. Mentora de carreira para executivos. Criadora do programa Get Songs de acompanhamento de carreira/Pearson. Mentora voluntária PMI/SP e Instituto Ser Mais.  Editora, colunista e gestora blog arbache.com/blog e palestrante em encontros nacionais e internacionais.

Referência Bibliográfica

NIELSEN. Panorama do comportamento de consumo e estilo de vida das mulheres brasileiras. Acesso em 16/11/2020.

PITCHBOOK. The US VC Female Founders Dasboard. Acesso em 16/11/2020.

VENTURE BEAT. How Women Invest will tardet female founders with 10 million fund. Acesso em 18/11/2020.

WOMENTECH NETWORK. Women in Technology Statistics: where are we?. Acesso 11/2020.

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

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