Já Calçou o Sapato Alheio?
Sobre a falta de compaixão… Sempre soube que apesar da quebra das fronteiras, é inevitável que mesmo que sejamos pessoas interessadas, estudiosas, com fé e até religiosas, não conheceremos a natureza humana na sua integralidade.
Como sempre estudei em colégio de formação católica, tive por muito tempo, uma visão (estreita) e direcionada à generosidade humana. Aprendi e tive hábitos que me ensinaram a compartilhar, a dividir, a crer no outro, a respeitar opinião diversa da minha, a entregar mais do que esperavam e a tentar ponderar – com a máxima – de se colocar no lugar do outro antes de avaliar qualquer situação; e a cada dia que passa percebo que “se colocar no lugar do outro” é coisa rara de se ver (e sentir). Não sei se é a pressa, se é o egoísmo que faz com que o outro tenha tão pouca importância para muitos nos dias atuais. Estamos muitos severos nos julgamentos e pouco generosos na absolvição.
Uma questão é a teoria, o discurso do “politicamente correto”, a opinião de um chefe hierárquico, o posicionamento “na frente dos outros”, o discurso inflamado de “verdades que precisam ser ditas”, ou seja, o pseudo comprometimento com a causa. Outra coisa, (e esta é a que realmente importa) é justamente o que vai dentro do olhar sobre esta mesma demanda, e que tipo de ação movimentamos depois desta franqueza.
A crítica sobre qualquer incômodo tem se demonstrado um espelho sobre o mesmo problema que carregamos (muitas vezes sem perceber). Chega ser irônico percebermos que o que nos irrita profundamente em fulano, seja justamente nosso defeito escancarado bem ao alcance do nosso olhar julgador.
Não é necessário ser muito estudioso, cientista ou religioso, a falta do que tenho sentido nas relações é a falta de generosidade; de comprometimento no sentido mais raso; do silêncio para não sermos injustos em verdades parciais; da mão estendida e desinteressada, do compromisso atendido, do riso leal.
Não tenho respostas de como mudar este quadro, mas busco tentar acolher um evento (ao mínimo) por dia, para que ao final de cada jornada ao deitar-me, eu possa responder com um sim se fiz o dia de alguém mais legítimo. Se realizei o que havia dito, se respeitei aquela opinião tão adversa, se soube equilibrar as questões e se fui atenta e generosa dentro das minhas possibilidades. Às vezes (e quase sempre) não é o muito que faz a diferença, e sim, o quanto de atenção você – exclusivamente – cedeu do seu precioso tempo àquela demanda. É simples mas não é fácil. É vestir empaticamente o sapato alheio e aí sim, poder estar junto mesmo que não possa aliviar a dor do aperto.
Lindo final de semana!
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