Pesquisadores Usam Matemática Avançada da Teoria dos Jogos para Explicar desde Eleições e História até Guerras
Temas: eleições, diplomacia, história. Os especialistas: matemáticos – todos ganhadores do Nobel de economia, sendo um deles John Nash, que inspirou o filme “Uma mente brilhante”.
Nada de estranho, dizem. Eles usam a teoria dos jogos – o estudo matemático sobre como pessoas escolhem estratégicas -, e acham que ela será útil às ciências sociais neste século.
“O tratamento matemático precisa de pressupostos claros, e isso leva a conclusões por conseqüência lógica”. Diz Robert Aumann, da Universidade Hebraica (Israel). “Com palavras, você convence de qualquer coisa. A matemática promove uma disciplina de pensamento”. Nash, aos 82, esteve ontem na USP para o encontro que reuniu cientistas que trabalham com teoria dos jogos. Recuperado da esquizofrenia, diz que foi hospitalizado contra a vontade e acata a eficácia do procedimento.
A área que Nash ajudou a fundar permite comparar, por exemplo, tipos de votação. Se as pessoas votam em apenas um deputado, é mais fácil ser eleito com um discurso específico, focado em um grupo de eleitores (defendendo direitos gays ou maiores salários para policiais).
Se os eleitores fazem uma lista com três nomes, é preciso o triplo de votos para vencer. Discursos de interesse geral (como crescimento econômico ou menos impostos) tendem a ter mais sucesso.
Nesse caso, é fácil prever o resultado da modelagem matemática. Em sistemas sofisticados, os resultados de mudanças nas regras do jogo são mais imprevisíveis. A matemática, aí, faz previsões que a reflexão não atinge.
A idéia não é desprezar as ciências sociais, diz Roger Myerson, da Universidade de Chicago. “Li autores de política. Ele mostram quais questões institucionais importantes estudar”. Ele pesquisou a República de Weimar, da Alemanha pré-Segunda Guerra. O sistema político era generoso com quem adotasse estratégias autoritárias.
Nash diz que gostou do filme sobre sua vida, mas que ele não é fidedigno. A cena em que está no bar e as garotas do local o fazem ter um insight é invenção do roteirista. “E ele ganhou um Oscar”.
A teoria dos jogos mostra que o ataque é uma estratégia muito vantajosa quando um lado percebe fraqueza no outro, diz Robert Aumann. O exemplo clássico da teoria, aliás, é o dilema do prisioneiro. Se dois comparsas ficarem quietos, ambos serão soltos. Se apenas um ficar em silêncio, ele é condenado. Se ambos falarem, os dois são presos. Como um não sabe o que o outro fará, não colaborar é a melhor opção – afinal, se o comparsa ficar quieto, você é solto; se ele falar, você seria preso de qualquer jeito. “Compare a Guerra Fria e a Segunda Guerra. Negociar com Hitler não trouxe a paz”.
Antes de morrer, conta, o filho lhe escreveu. Dizia que não há bem sem o mal.
(Ricardo Mioto Folha de São Paulo Ciência – 4 agosto 2010).
Deixe seu comentário