Reportagem da Folha de São Paulo em 29/09/2012
O iPhone é um trabalho soberbo de design de embalagem, mas a realidade fica muito distante de uma imaculada concepção.
Foxconn fecha unidade na China após briga
A Foxconn, que fabrica o aparelho da Apple na China, vem enfrentando uma série interminável de críticas e preocupações, desde condições precárias de trabalho até suicídios de trabalhadores.
Agora, o jornal “Shanghai Evening Post” publicou um diário detalhado sobre a vida em uma fábrica da Foxconn, escrito por Wang Yu, um repórter que se empregou clandestinamente na companhia.
Ele durou dez dias no posto, sete dos quais em treinamento e três fazendo “marcação de pontos de posicionamento na placa traseira”.
A Foxconn recrutou 20 mil novos operários em março a fim de cumprir suas metas de produção para o iPhone 5 e tem de produzir 57 milhões de unidades por ano, segundo a reportagem de Wang.
No texto, Wang se queixa de que teve de trabalhar em 3.000 celulares em um turno de dez horas e de receber 27 yuans (cerca de R$ 9) por duas horas extras trabalhadas.
“Uma placa traseira de um iPhone 5 passava por mim a cada três segundos. Eu tinha de apanhá-la e marcar quatro pontos de posicionamento, usando uma caneta a óleo, e devolver a placa rapidamente à esteira rolante, em três segundos, sem erro”, conta.
“Após diversas horas de ações repetidas, sentia dores horríveis na nuca e nos braços. Um operário que estava sentado diante de mim se exauriu e deitou por alguns minutos. O supervisor o puniu ordenando que ficasse de pé no canto da oficina, como se fazia na escola.”
“Trabalhamos sem pausa da 0h às 6h e depois disso os chefes insistiram em que continuássemos a trabalhar. Fiquei faminto e completamente exausto”, completa.
Os alojamentos cheiram a lixo, suor e espuma, e o repórter revelou que há baratas nos armários e que a roupa de cama estava suja.
Os trabalhadores são informados de que se causarem o disparo dos detectores de metais, na oficina de produção de alta segurança, serão demitidos imediatamente, e o repórter alega que um operário foi demitido porque tinha um cabo USB no bolso.
É claro que esse problema está longe de afetar apenas a Apple. A Foxconn produz componentes para praticamente todos os demais fabricantes de bens eletrônicos de consumo, como HP, Sony Ericsson, Amazon e Dell.
Já houve promessas da Apple e da Foxconn neste ano de melhorar as condições, mas depois disso surgiram informações sobre o uso de estudantes como mão de obra.
Procurada na semana passada, a empresa chinesa não comentou o caso.
Funcionários trabalham em fábrica da Foxconn em Shenzhen, na China
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