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China: uma viagem profissional e cultural

Este texto é o primeiro de uma série de três posts escritos por Fernando Oliveira para o Blog da Arbache Innovations. Fernando é Engenheiro de Produção Mecânica e narrou suas experiências de mais de um ano vivendo e trabalhando na China. Em seus textos, Fernando fez uma análise pessoal sobre a China e sua cultura.

Em 2017, devido ao gerenciamento de um programa automotivo global para mercados emergentes, iniciado em 2016 e previsto para ser finalizado no início de 2020, surgiu a oportunidade de gerenciar parte das funções do programa na China. O objetivo era dar suporte a eventuais dúvidas durante as interações e testes entre os cintos de segurança e os novos modelos de veículos desenvolvidos na China e que serão produzidos e manufaturados para o mercado interno e externo (no México).

A oportunidade, ideia, possibilidade e necessidade de ir para um país desconhecido por nós, conhecer o time do programa e assim, estreitar ainda mais os laços profissionais, confiança e até amizade gerenciada por meio da comunicação por e-mails, telefonemas, Skype e reuniões de follow-up, uma vez por semana, foi um incentivo/combustível a mais para acelerar o complexo programa e desmistificar alguns estereótipos. A complexidade não está relacionada apenas ao tamanho do programa (desenvolvimento de três carros completos), mas por fazer parte de um time de multipaíses, de culturas distintas e até então desconhecidas (em que seria/será necessário muito cuidado e sensibilidade em gerenciar diferentes stakeholders multiculturais e com expectativas diversas), língua, distância, política, restrições de internet/redes sociais e costumes bem diferentes dos nossos. Por diversas vezes temos nos esbarrado em questões relacionados às diferenças entre as leis Chinesas e Brasileiras, por exemplo.

Em nenhum momento, a notícia de que eu iria para a China foi recebida com medo do desconhecido, pelo contrário, vi apenas os pontos positivos que essa viagem poderia proporcionar ao programa e que indiretamente, contribuiria para o meu crescimento profissional e pessoal.

Com base nos cronogramas dos projetos, diante de todas as datas e eventos já estabelecidos, foi definido o tempo de estadia em Pudong, Xangai: de setembro a outubro.  O que fazer? O que levar?

Pesquisei sobre tudo: clima, alimentação, costumes, boas maneiras, moeda, seguro de vida, transporte, pontos turísticos, localização do hotel em que eu ficaria, li blogs na internet de viajantes – e, para minha surpresa, todos eram unânimes em dizer que a internet era muito restrita.

Em relação ao clima nos meses de setembro/outubro, estava bem quente e chovia algumas vezes durante o dia e à noite. Como o ar da China é bastante poluído, vi muitas pessoas usando máscaras. A chuva pelo menos minimizou bastante a questão da poluição

 

Na minha última viagem para a China, em Janeiro, estava bem frio, tanto que alguns dias nevaram bastante em Pudong e como o clima estava bem seco, não chovia, a poluição do ar estava muito alta, fazendo com que as narinas sangrassem algumas vezes na semana.

Alimentação: realmente a comida Chinesa é bem diferente da nossa, cheiro, tempero, maneira de preparo, conservação e etc. Caso não queira se aventurar na cozinha chinesa, certamente haverá muitas opções já conhecidas aqui no Brasil, mas vale a pena experimentar algumas iguarias. Pratos ocidentais normalmente tem um custo bem mais elevado que os pratos locais. Caso te convidem para comer nos restaurantes da empresa durante o horário de trabalho, pois muitas vezes não dá tempo de almoçar fora devido ao intenso volume de trabalho, vá, mostre-se disposto. Se quiser experimentar alguma comida, não faça cerimônias. Se não gostar, seja sincero, mas não precisa ser mal-educado, respeito e empatia sempre fortalecem as relações interpessoais.

Pato laqueado:

 

Comidas típicas:

Costumes: os chineses são bem diferentes de nós, tímidos num primeiro momento, mas sempre educados e curiosos em relação ao Brasil. Eles frequentemente perguntam sobre futebol (Neymar faz bastante sucesso entre todas as faixas etárias).

Regras de Etiqueta no trabalho: como minha viagem era a trabalho e eu teria muitas reuniões, resolvi pesquisar sobre a maneira de cumprimentá-los, como entregar o cartão de visitas, hierarquia, troca de presentes, pontualidade, etc. Vamos a algumas dicas.

  1. Pontualidade: a cultura chinesa respeita a pontualidade e nela atrasos mostram falta de respeito. Então seja pontual. É preferível chegar num compromisso 30 minutos adiantado a qualquer atraso.
  2. Cumprimento: os chineses, geralmente, não estão acostumados a toques, beijos, abraços ou tapinhas nas costas. Então, a forma comum de cumprimento em reunião de negócios, hoje em dia, é o aperto de mãos. Essa forma de cumprimento foi adotada para se integrar ao ambiente de negócios ocidental, mas, também virou uma prática oriental hoje em dia.
  3. Cartão de visitas: os cartões de visita devem ser entregues e recebidos com as duas mãos. A informalidade de dar ou receber o cartão com uma mão pode fazer os chineses sentirem que não foi dada a devida importância ao ato. Cada cartão deve ser entregue pessoalmente, bem como a entrega de presentes e documentos. Deve-se também olhar o cartão recebido antes de guardá-lo.
  4. Nomes nos cartões de visita: é costume agora os chineses usarem um nome ocidental para ajudar os estrangeiros a se lembrar deles e de como chamá-los. No meu cartão de visitas, de um lado está escrito em Inglês e do outro, em português. Normalmente, eles pedem para pronunciarmos algumas palavras em português, então sugiro que aprenda algumas palavras em chinês e interaja bastante.
  5. Troca de presentes: é comum a troca de presentes durante uma visita ou reunião.  Presentes são trocados para mostrar agradecimento, apreciação e relacionamento baseado em confiança e amizade, inclusive, presenteei algumas camisetas da seleção brasileira de futebol para os (as) engenheiros (as) que mantenho mais contato e eles (as) se sentiram muito lisonjeados (as) e agradecidos (as), sugiro também que leve presentes extras, pois provavelmente conhecerá outros integrantes da equipe que trabalham no backstage. Não ofereça presentes na cor preta e branca, pois podem lembrá-los de morte ou funerais. Evitem também presentes em número 04, pois o som do 4 é parecido com o som da palavra “morte” em chinês. Por outro lado, o número 8 é uma excelente opção, pois significa “sortudo”. Ao embrulhar os presentes evite usar papel branco ou preto, os preferidos são dourados ou vermelhos, bem como deve ser evitado o uso da tinta vermelha. Por fim, jamais dê um chapéu verde para um homem chinês, pois significa que ele é corno. Algumas outras sugestões de presentes: artesanato da sua região ou país, objetos em pedras ou pedras preciosas, bebidas alcóolicas (para os homens), itens com o logo da sua empresa, livros e calendários.
  6. Hierarquia: a hierarquia é mais levada em conta na China do que no Brasil. Na China, a hierarquia entre cargos em uma empresa é clara, e as relações entre pessoas deve levar em consideração essa hierarquia. Normalmente, o pedido para que algo seja feito, sempre virá de alguém de hierarquia maior.

Moeda: a moeda utilizada na China, com exceção de Hong Kong e Macau, é o RMB (Renminbi), que significa “moeda do povo”, sendo a unidade básica o Yuan. Basicamente 1 RMB equivale a R$ 0,50.

Seguro de vida: é importante, pois você está indo para um país distante, na qual há uma possível dificuldade em relação à língua (poucos chineses falam inglês – somente os mais jovens que trabalham em cias internacionais ou vendedores de mercadorias), imprevistos podem acontecer. Pague por um seguro de vida e, se possível, pesquise as localizações das redes conveniadas.

Transporte: é muito fácil e barato para se locomover em Xangai. A malha metroviária é imensa, há um metrô que leva você a todos os lugares. Sem falar no trem bala, que acabei utilizando para ir de Xangai até Pequim. Os táxis são bem mais baratos que no Brasil, então é outra excelente opção, caso se hospede em um hotel um pouco mais longe de alguma estação de metrô. Durante a semana eu pegava táxi do hotel até o trabalho, cerca de 30 minutos, e pagava cerca de 40 RMB (R$ 20,00); todos os taxistas dão nota fiscal referente à corrida realizada. Quando eu saía do trabalho para voltar para o hotel, ficavam sempre alguns taxistas estacionados na portaria da empresa. No entanto, eles cobravam apenas preço fechado (100 RMB). Como os taxistas normalmente não falam inglês, eles ficavam com uma calculadora ou celular para mostrar o valor fechado da corrida de táxi. Dica: como a cidade é muito segura e você pode andar na rua o horário que quiser sem nenhuma preocupação, ande até alguma avenida movimentada e pegue um táxi comum, que não seja preço fechado. Em relação ao metrô, baixei um aplicativo chamado “Shanghai” que mostra as linhas do metrô de Xangai e  outro aplicativo chamado “Beijing”, que possui todas as estações de Pequim. Em ambos você compra o tíquete e paga por trecho percorrido, ou seja, se você precisa ir da estação X para a Y, independente do metrô te dar acesso à várias outras estações, você pagará por km percorrido. Achei muito justo e inteligente. Outra opção de transporte público são as bicicletas estacionadas por várias ruas e saídas do metrô e não é necessário deixá-las em locais específicos. Você apenas precisa deixá-las em ruas movimentadas. Para usá-las é necessário apenas baixar um app e cadastrar o cartão de crédito para destravar o cadeado (as bicicletas possuem um QR code que é destravado pelo app, similar às bicicletas do Itaú) e o custo é de apenas 1 RMB (R$ 0,50).

Mapa dos metrôs de Xangai e Pequim, respectivamente:

Trem bala: utilizei para ir de Xangai (Shanghai) para Pequim (Beijing)

Esse foi o primeiro texto de Fernando para a série China: uma viagem profissional e cultural. A série contará com mais dois textos, que serão postados ao decorrer das próximas semanas.

 

Fernando Oliveira

Fernando Oliveira

Engenheiro de Produção Mecânica e Project Manager

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