Carreira

As organizações e carreiras que não inovarem virão à óbito: entenda o porquê

Inovação nas Organizações

Entenda quais conceitos e argumentos que suportam essa afirmação. Texto decorrente de Palestra “RH 4.0 e Empregabilidade”, proferida pelos autores no evento Empreenda UNIFAI – Centro Universitário de Adamantina, no dia 10 de março de 2020.

Introdução

Diamandis (2015) nos dá as boas-vindas à época das mudanças exponenciais, apontando que é o melhor momento para vivermos, e isso é corroborado pela recente pesquisa publicada por Ready et al (2020, p. 03), que cita que estamos vivendo um “mundo novo e incrivelmente emocionante”.

O que chama a atenção é que ambos nos oferecem uma reflexão robusta a respeito da nova era. Diamandis abre a obra de Ismail, Malone e Geest (2015), que trata da chegada das organizações exponenciais, abordando seu perfil e características.

Os autores indicam que, por elas crescerem dez vezes mais rápido do que organizações lineares, elas são capazes de promover disrupção no mercado e fragilizar modelos de negócios lineares, como exemplificam no caso da Nokia x Waze (2015, p. 35).

Tecnologias inovadoras e seus impactos na prática

Os argumentos utilizados são enfáticos ao descrever que esse “novo mundo” requer uma nova mentalidade para os negócios e seus líderes. O argumento está baseado na chegada das inovações e nos impactos que elas trazem para os negócios.

As inovações, criadas sob o que chamamos de “Revolução 4.0” e contextualizadas no denominado “mundo VUCA ou VICA”, solicitam uma urgente revisão, ou melhor, reimaginação dos modelos e das mentalidades de negócios e do capital humano.

Outro argumento significativo é exposto por Diamandis (2015, p 09), o qual relata que três bilhões de novas mentes se juntarão à economia global. A previsão do autor aponta que as novas mentes já estarão entre nós em 2021 (ou seja, no próximo ano). Essa nova população de consumidores representa trilhões de dólares em poder de compra emergente.

Eles serão clientes diretos ou indiretos, ávidos por consumir inovação em ciclos cada vez mais contínuos e curtos. Outro fator importante apresentado pelo autor é que esse “bilhão emergente” (rising billion) será uma nova classe de profissionais empreendedores, capazes de gerar inovação e novos negócios fazendo uso das tecnologias inovadoras distribuídas no século XXI (inteligência artificial, computação na nuvem, big data, people analytics, manufatura 3D, entre outros).

Desse modo, os novos profissionais criarão modelos de negócios, serviços e produtos inéditos, como também serão capazes de reagir em contexto de mudanças complexas e frequentes, de modo rápido e com precisão.

A postura dos novos profissionais/empreendedores é pensada sob o ponto de vista da cultura “maker” (conhecida como Do it Yourself – faça você mesmo). Eles buscam soluções e criações que possam abastecer as suas “dores” e, com isso, criam produtos e serviços mais aderentes às demandas do século XXI.

Conectados em redes de relacionamentos e/ou comunidades online por meio das tecnologias inovadoras, criam o novo e entregam valor para o mercado em um ritmo muito acelerado.

Disruptivos, exponenciais ou não, os novos modelos de negócios impõem uma reflexão sem precedentes para as organizações lineares e acostumadas a navegar na complacente zona de conforto. Por enquanto, navegam. Mas, como indica Ready et al (2020), isso não acontecerá por muito tempo.

Entenda os conceitos: Revolução Industrial 4.0, Mundo VUCA e Organizações Exponenciais

A) Revolução Industrial 4.0:

Klaus Schwab (2016), fundador do fórum Econômico Mundial de Davos, indica que chegamos à quarta fase da revolução industrial. Para o autor, a forma como vivemos e nos relacionamos mudará drasticamente, pois as mudanças são profundas e, ao mesmo tempo, perigosas e promissoras.  

O mundo físico, o mundo digital e o biológico vão se fundir e trazer inovações para as diferentes dimensões da vida, uma vez que surgem no contexto das tecnologias emergentes (nanotecnologia, robótica, internet das coisas, biotecnologia, manufatura 3D, inteligência artificial, computação quântica, entre outras).

Para o autor, organizações e líderes devem se perguntar: “quando a mudança chegará à minha empresa e como ela a afetará?” A 4ª Revolução Industrial, no entanto, não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes e conectadas. Seu escopo é muito mais amplo.

Ondas de novas descobertas ocorrem simultaneamente em áreas que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis à computação quântica. O que torna a 4ª Revolução Industrial fundamentalmente diferente das anteriores é a fusão dessas tecnologias inovadoras e a interação entre domínios físicos, digitais e biológicos. (ISCHWAB, 2016).

B) Mundo VUCA/VICA:

Nós estamos marcados pela complexidade e pelo uso intensivo da tecnologia que o Mundo VUCA/VICA nos oferece. “Mundo VICA” significa, na Língua Portuguesa, “Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo”, e também pode ser chamado de VUCA (em Língua Inglesa: Volatility, Incertainty, Complexity, Ambiguity), como cita MCNulty (2017).

O mundo VUCA nos tira a segurança dos velhos paradigmas que passaram a ser questionados, ou até mesmo nem existem mais. Agora, temos um ambiente acelerado e com destino incerto. A sigla VUCA nasceu de um ambiente árido e hostil na década de 1990. Os militares americanos usavam-na para caracterizar cenários de guerra extremamente desafiadores.

Nos anos 2000, após episódios de terrorismos nos EUA, o VUCA passou a ser chamado de “o novo normal”. De lá para cá, o mundo dos negócios adotou a sigla, transportando todo o “vocabulário do VUCA” para esse mundo.

Coragem, medo, robustez, agilidade, precisão, risco, velocidade, entre outros, ocupam agora o linguajar dos sujeitos que habitam o mundo dos negócios. É um caminho sem volta. Conhecer o VUCA e o seus impactos é condição para sobreviver a esses novos tempos.

C) Organizações Exponenciais:

Nascidas pequenas, enxutas e com poucos recursos, mas com boas ideias e trazidas à tona pelas tecnologias acessíveis e avançadas, as ExOs partem do chamado PTM (Propósito Transformador Massivo). O PTM é capaz de atingir uma grande comunidade dentro e fora da organização.

“Uma organização Exponencial (ExO) é aquela cujo impacto (ou resultado) é desproporcionalmente grande – pelo menos dez vezes maior – comparado ao de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas” (ISMAIL, MALONE, GEEST, 2015, p. 19).

Elas trazem um novo modelo de organização capaz de responder com agilidade às mudanças e demandas do contexto em que vivemos. Para isso, utilizam ativos alavancados, staff sob demanda e, entre outros artifícios, algoritmos para direcionar os negócios, gerando maior precisão na tomada de decisão.

Elas são capazes de criar comunidades em torno de seus serviços e/ou produtos e, com isso, atingem multidões (ARBACHE, 2019). As ExOs se tornam uma grande ameaça aos modelos tracionais e lineares de organizações, muitas delas, vítimas de um mantra ultrapassado (“eu nasci assim, sempre fiz assim, sempre serei assim”).

Aquelas que não se atentarem para o risco que as ExOs impõem para o mercado poderão vir a óbito!

Conclusão

  1. As novas tecnologias distribuídas pela Revolução Industrial 4.0 e o contexto do “mundo VUCA ou VICA” impõem uma nova mentalidade para viver e liderar no mundo dos negócios.
  2. As novas organizações, conhecidas como “organizações exponenciais” – ExOs, são capazes de colocar em risco modelos de negócios lineares, complacentes com a zona de conforto.
  3. O bilhão emergente consome, demanda e cria inovação em um ritmo acelerado. Ele pode ser o consumidor, o profissional e o empreendedor. Por isso, saber como se relacionar com ele e lhe oferecer a melhor experiência de consumo ou experiência de trabalho (EX – experiência do empregado) será a chave do sucesso para vencer no século XXI.
  4. Os líderes que estão fora de contato com esse “mundo emocionante” e não deram as boas-vindas para ele podem sair perdendo, pois:

a) levarão as suas organizações para situações frágeis frente aos novos competidores ou tirá-las-ão do mercado;

b) podem ser incompatíveis para liderar novos negócios, desgastando seu potencial de empregabilidade nessa nova era.

Referência Bibliográfica

ARBACHE, Ana Paula. Mudanças Exponenciais: “é preciso saber as regras do jogo para poder estar nele!”. Acesso em 26/02/2020.

DIAMONTS, Peter H. Prefácio. In: ISMAIL et al. Organizações Exponenciais São Paulo: HSM Editora, 2015, p. 7-11.

DYE, Collen, CHANLER Mike, LYKENS, Jay. Tendências globais de talentos: as quatro principais maneiras que estão mudando a maneira de contratar e reter talentos. LinkedIn Talent Solution. Acesso: fev. de 2020.

GREAT PLACE TO WORK. Relatório: as tendências de RH em 2019. Acesso em fev.2020.

ISMAIL, Salim, MALONE, Michel S. GEEST, Yuri V. Organizações Exponenciais. São Paulo: HSM Editora, 2015.

MCNULTY, Eric J. Leading in an Increasingly VUCA World. 2015.

NÌNO, David. Leading Innovative Teams. Apostila do Curso Leading Innovative Teams MIT Professional Education: Short Programs. MIT Campus, Cambridge, MA, Agosto de 2018.

READY, Douglas A. et al. The new leadership playbook for the digital age: reimagining what it takes to lead. MITSLOAN MANAGEMENT REVIEW. Cambridge, jan.  2020.

REINHARD G. Bauer et. al. Pesquisa global indústria 4.0: relatório Brasil: o que entendemos por indústria 4.0. PWC. Acesso em dez.2019.

SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução de Daniel Moreira Miranda. 1. ed. São Paulo: Edipro, 2016.

Ana Paula Arbache

Ana Paula Arbache

Pós-doutora em Educação pela PUC/SP. Doutora em Educação pela PUC-SP. Mestre em Educação pela UFRJ. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015), Leading Innovative Teams (2018). Docente dos cursos de MBA e Pós MBA da Fundação Getúlio Vargas. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora da Arbache Innovtions, responsável pelas ações de Gestão de Pessoas, Liderança, Governança Corporativa, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012), A crise e o impacto na carreira (2015), O RH Transformando a Gestão – Org. (2018). Certificação em Coaching e Mentoring de Carreira para Executivos. Mentora do Capítulo PMI/SP. Curadora e Colunista do blog arbache.com/blog e Página Mundo Melhor de Empoderamento Feminino Arbache innovations. Fundadora do Coletivo HubMulheres. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.

Fernando Arbache

Fernando Arbache

Mestre em Engenharia Industrial PUC/Rio. Independent Education Consultant working with MIT Professional Education. Graduado em Engenharia Civil, UFJF. Data and Models in Engineering, Science, and Business/MIT, Cambridge, MA (USA). Challenges of Leadership in Teams/MIT, Cambridge, MA (USA). Data Science: Data to Insights/MIT, Cambridge, MA (USA). AnyLogic Advanced Program of Simulation Modeling/Hampton, NJ (USA). Experiência Acadêmica: Educational Consultant working with MIT. Instructor in Digital Courses at MIT Professional Education in Digital Transformation and Leadership in Innovation. Atuou cimo coordenador da FGV em cursos de Gestão. Atuou como professor FGV, nas cadeiras e Logística, Estatística, Gestão de Riscos e Sistemas de Informação. Professor da HSM Educação, IBMEC e FATEC. Livros escritos: ARBACHE, F. Gestão da Logística, Distribuição e Trade Marketing. São Paulo: Ed. FGV, 2004. ARBACHE, F. Logística Empresarial. Rio de Janeiro: Ed. Petrobras, 2005. ARBACHE, A. P. e ARBACHE, F. Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos. São José do Rio Preto- SP: Raízes Gráfica e Editora, 2012. Pesquisa: Desenvolvimento de modelos de mapeamento de Competências Comportamentais e Técnicas, por meio de gamificação com uso de Inteligência Artificial, utilizando Deep Learning e Machine Learning (http://www.arbache.com/mobi). Programa de Inovação com 75 cooperativas de diversas áreas de atuação e aproximadamente 500 participantes, com Kick-off no MIT PE (http://www.arbache.com/inovacoop). Desenvolvimento de Inteligências nos dados e métricas - Big data e precisão nas tomadas de decisões na gestão de pessoas. Experiência Profissional: CIO (Chief Innovations Officer) da empresa Arbache Innovations especializada em simulação, inovação com foro em HRTech e EduTech – empresa premiada no programa Conecta (http://conecta.cnt.org.br) como uma das 5 entre 500 startups mais inovadoras da América Latina. Acelerada pela Plug&Play (https://www.plugandplaytechcenter.com) em Sunnyvale, CA – Vale do Silício entre novembro e dezembro de 2018. Desenvolvimento de parceria com o MIT – Massachusetts Institute of Technology para cursos presenciais e digitais – http://www.arbache.com/mitpe, https://professional.mit.edu/programs/digital-plus-programs/who-we-work & https://professional.mit.edu/programs/international-programs/who-we-work

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