Gestão de Pessoas

A gestão da mudança ágil

Este artigo foi escrito por Sandra Gioffi. Leia mais sobre a autora ao fim do texto.

Recentemente, realizei uma pesquisa no LinkedIn sobre temas de maior interesse, e o mais votado foi a gestão da mudança ágil. Confesso que fiquei bem feliz por ser uma vivência recente e de forte transformação pessoal para mim.

Lido com a “implantação do novo” há mais de 20 anos, e quem me conhece sabe o quanto sou apaixonada pelo tema. Lembro que quando eu era estagiária na Bunge Alimentos, atuava nos projetos de qualidade total, e a mudança do modelo mental era a base para implantação desses programas e alcance de eficiência e eficácia dos processos. 

Mas não tínhamos um nome, uma metodologia que sustentasse a geração de motivos para que uma pessoa agisse de forma diferente. Não existia um nome “fancy” para apoiar a necessidade de coalizão entre as pessoas impactadas pelas mudanças, criando um ambiente, ou mesmo um grupo, que pudesse discutir o assunto.

Temos que lembrar que sempre que queremos marcar algo, precisamos dar um nome ou um conceito. Neste caso, estávamos fazendo algo novo, ainda não existente, e a inovação sempre é confusa, cheia de percepções que amadurecem com o tempo. Portanto, desde sempre, fiz inovação, mesmo sem saber o que estava fazendo.

Sabe o combinado que fazemos com as crianças, no qual explicamos, por exemplo, que não devemos falar palavrão, agimos como “role model”, ensinamos atitudes corretas e também reconhecemos quando se comportam bem? Exatamente isso…

Sim, é disso que estamos falando – entender o porquê racionalmente e agir alinhado a todos os envolvidos. Sempre achei tão lógico. Mas por que era tão difícil? Por que as pessoas eram do mal? Acordam dispostas a derrubar nossos planos e projetos? Tinham prazer em dificultar nossa vida? Nada disso.

Naquela época não existia a Neurociência para explicar que o racional (“Córtex Pré Frontal) está coberto de razão, ops de emoção… rsrs. E eu, que sempre gostei de desafio, fui me embrenhando nesse tema, vivendo, aprendendo, errando e estudando. O mais gostoso de tudo é que sempre é diferente. Porque as pessoas, empresas e culturas são diferentes. Então, os “toolkits” da consultoria não ajudavam muito. Só nos lembravam o que não deveríamos deixar de fazer. 

As atitudes das pessoas mudam e essas mudanças são a chave da inovação. Algo que aprendi com o tempo: às vezes, quando uma pessoa tem uma atitude estranha ou ilógica, nem sempre ela está agindo de forma incoerente. As ideias malucas que ela está tendo podem vir a revolucionar o mundo. Portanto, preste atenção nas pessoas fora da curva. Elas podem estar querendo te dizer algo.

Há exatos 6 meses, começamos um lindo projeto de transformação do negócio e, como se não bastasse a complexidade, nós, “um tanto arrogantes”, decidimos fazer a gestão da mudança usando a filosofia ágil. Sim, filosofia e não metodologia porque queremos ir além das regras, queríamos trabalhar de acordo com as mais antigas práticas de Platão e Heráclito, que seria a contemplação ou observação e a dialética, que podemos dizer que é discutir, discutir e discutir. Queríamos redefinir as verdades e buscar novas verdades, em um mundo que não para de nos surpreender.

Nesse momento, nos demos conta de que os primeiros a mudar deveríamos ser nós (lembrando que estamos fazendo uma abordagem filosófica): equipe do projeto ou, podemos dizer, de filósofos. Precisávamos estar atentos às novas atitudes, sinais, falas, pensamentos presentes, e não ao comportamento de amanhã, em uma entrega longínqua. 

Nos demos conta de que a abertura à mudança e a transparência eram pré-requisito para o sucesso, que a forma de medir os resultados não deveriam mais refletir datas, mas, sim, valores entregues, e que as pessoas precisavam descobrir que elas não conseguem fazer nada sozinhas. É muito importante lembrarmos que pessoas diferentes falam coisas distintas e até antagônicas ao que pensamos. Essa é a riqueza da diversidade. Muitos olhares distintos sobre um mesmo problema.

Sim, se as pequenas entregas são rápidas, precisamos tirar da frente as barreiras. Se o produto vai ser testado em uma primeira versão, vou precisar envolver o cliente agora e não vou conseguir monopolizar o projeto, fazendo valer o que eu quero ou acredito.

Compartilhando com vocês, descobrimos (com o coaching do meu amigo Fernando Arbache, CIO e sócio-fundador da Arbache Innovations) que a humildade é a competência “core” do ágil. Ela precisa ser exercitada a todo momento para que eu não faça do projeto a minha vitrine ou trampolim de carreira, mas sim uma sequência de entregas diminutas, simples, mas consistentes com as necessidades do cliente.

É claro que erramos, mas aí é que está o ganho. É claro que não sabíamos exatamente o que sairia como resultado de um workshop de ideação, por exemplo. Mas lidar com essas incertezas é o que faz com que a gente teste e ajuste rapidamente. 

Mas o que eu aprendi? Além de toda filosofia que reforça meus valores e competências, que o cliente é o centro de tudo e que o projeto está a serviço dele. O amanhã não vai chegar se meu concorrente entregar primeiro. 

“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter sonho, sempre!” É preciso gerir seu projeto com um jeitão de adolescente: aquele simpático, descomplicado, que ri dos seus erros, que gosta de viver em bando, mostrar suas espinhas e vulnerabilidades e que não se importa de sujar a mão de graxa para colocar o motor para funcionar? Exatamente. Não é uma questão de usar jeans e tênis, e sim de aceitar a insegurança e trabalhar em time, onde cada um sabe um pouquinho do fundamental.

Complexo, não? Ágil.

Para sair do romance e trazer o pragmático, que acho que é o que você espera nesse artigo, na minha opinião, não existe ágil sem gestão da mudança. A diferença é que na maior parte dos “projetos waterfall”, a gente tem que vender a mudança para quebrar as resistências naturais. Criamos um escopo fechado de algo que vamos fazer sem saber o que é, pois lembre-se: estamos fazendo inovação. 

A gente tem que mostrar toda hora que o cliente precisa “daquilo que você está construindo para ele”. Não que waterfall seja melhor ou pior, é apenas o fato de que ele funciona muito bem para projetos em que o escopo é conhecido, porque o projeto já foi diversas vezes feito e sabemos exatamente o que nossos clientes querem e o que vamos entregar. Tudo que não acontece em projeto inovadores. Por isso o ágil e por isso a necessidade de mudar o mindset.

No ágil, você precisa aceitar que você tem que desenvolver aquilo que o cliente precisa. E se você não o fizer, fique tranquilo, porque você vai saber logo nas primeiras semanas que o que você construiu não funciona.

Partindo disso, a metodologia de Gestão da Mudança no ágil está baseada em: fazer o time trabalhar junto, entender seu papel, aprender competências como a humildade, gerenciar os egos e trabalhar o modelo mental de que devemos partir de uma folha em branco, mas nunca perder o valor a gerar.

Se você está gerindo um projeto hoje nessa filosofia, as dicas da minha inexperiente vivência são:

Analise a prontidão para a mudança da organização e das pessoas
Desenvolva os soft skills do time do projeto
Envolva o cliente na concepção do produto
Crie um ambiente de confiança
Reconheça e celebre as entregas

Nos próximos artigos, detalharei e compartilharei com você cada uma dessas etapas.

Bom, esse foi o meu aprendizado, mas tenho certeza de que você também tem coisas riquíssimas para me ensinar.

Conheça mais sobre Sandra Gioffi, autora deste artigo:

Rosto de mulher sorrindo

Descrição gerada automaticamente

Sandra Gioffi é psicóloga de formação com sólida carreira em duas dimensões: organização e consultoria. Tem experiência na área de Recursos Humanos de grandes empresas, em processos de fusão e aquisição e na condução de transformações culturais, com novas tecnologias e novos modelos de trabalho (digital e ágil).

Têm experiência como professora de Gestão da Mudança no Insper, atuou como diretora de Recursos Humanos e é atualmente Diretora de Gestão da Mudança Assistencial do Grupo DASA e Diretora ABRH/CONARH.

Nos últimos cinco anos, atuou com organizações de impacto social, como conselheira de organizações como Gerando Falcões, Programa de Egressos – Recomeçar GF, Cores do Mará e Fundação ABH. É fundadora do grupo de mulheres BoardW e integrante do coletivo HubMulher.