Empreendedorismo e Inovação Mercado

Serviços e Crescimento Econômico

Jorge Arbache

A discussão sobre a importância da produtividade finalmente começou a se popularizar no Brasil, o que são boas novas para as perspectivas do crescimento econômico, redução da pobreza e da desigualdade, contenção da inflação e aumento da competitividade internacional. Embora a produtividade tenha grande contribuição para a prosperidade das nações em geral, é em contextos de crescente escassez de capital e de trabalho que a produtividade passa à condição de elemento crítico e até determinante do desenvolvimento.

E esse parece ser o caso do Brasil. De fato, temos, de um lado, uma taxa de poupança muito aquém da necessária para financiar os investimentos de que tanto precisamos e é improvável que ela venha a aumentar de forma significativa no horizonte previsível. De outro lado, passamos por rápida e intensa transformação demográfica que já nos encaminha para um quadro de escassez de força de trabalho. Temos, portanto, que aprender a fazer mais com o mesmo, ou seja, temos que aumentar substancialmente a nossa produtividade.

Infelizmente, porém, aumentar a nossa produtividade, que é baixa para padrões internacionais, não será tarefa fácil. Primeiro, porque não temos histórico de políticas públicas e privadas bem-sucedidas nessa área. Segundo, porque as dimensões populacionais e territoriais e a diversidade e características produtivas do país requerem políticas próprias à nossa realidade que ainda não foram devidamente desenvolvidas e testadas. Terceiro, porque a produtividade depende, e cada vez mais, de elementos ainda escassos por aqui, tais como conhecimento, novas tecnologias e infraestrutura. E quarto, porque, a esta altura, já não bastará aumentar a produtividade em relação a nós mesmos. Será preciso, isto sim, que a produtividade cresça mais rapidamente que a de nossos potenciais competidores, que também estão na corrida da produtividade.

Para avançarmos nessa agenda também será preciso que a produtividade aumente de forma sistêmica. Mas um olhar mais cuidadoso mostra padrões bastante variados de níveis e descolamento das taxas de crescimento das produtividades setoriais, fenômeno típico de economias que estão se tornando relativamente menos, e não mais integradas em nível doméstico.

Enquanto a produtividade do setor de commodities é alta e tem crescido bastante, a produtividade da indústria manufatureira é baixa e está estagnada. Mas a grande vedete é o setor de serviços, cuja produtividade é ainda mais baixa. O problema é que esse setor responde por 70% do PIB e já emprega 74% da força de trabalho. Mas ainda mais preocupante é que os serviços são, coletivamente, os principais insumos de produção dos demais setores – na indústria, por exemplo, eles representam 64,5% do valor adicionado. Quando comparado ao de outros países, constata-se que o nosso padrão de serviços é ruim, caro e deficiente. Logo, não será possível alavancar a produtividade agregada e a competitividade sem que haja um choque de produtividade nos serviços.

Mas essa tarefa parece ser ainda mais árdua. Um estudo recente feito com dados de centenas de milhares de empresas do setor de serviços (J.Arbache, Produtividade no Setor de Serviços, in “Produtividade no Brasil – Desempenho e Determinantes”, Vol. II, no prelo, Brasília: IPEA, 2015) mostra que a baixa produtividade está associada, dentre outros, ao pequeno tamanho médio das empresas, deficiências tecnológicas e de capital humano, elevada rotatividade do trabalho e modesta integração à economia internacional tanto pelas vias do comércio, como pela participação em cadeias globais de valor.

Um outro estudo mostra que setores de atividade com cadeias de produção mais integradas ao setor de serviços tendem a ter níveis e taxas de crescimento da produtividade mais elevados (J.Arbache e R.Moreira, “How Can Services Improve Productivity? The case of Brazil”, mimeo, Universidade de Brasília, May, 2015). Porém, identificou-se que são os serviços de agregação de valor e de diferenciação de produtos, tais como pesquisa e desenvolvimento, design, softwares específicos, marcas, projetos, serviços técnicos especializados e serviços financeiros sofisticados que estariam por detrás da maior produtividade. Já serviços de custos, tais como logística, infraestrutura, armazenamento, reparos, serviços de manutenção, serviços financeiros em geral, acomodação, alimentação e segurança teriam contribuição, quando muito, marginal. Comparação internacional mostra que um dos fatores associados à baixa produtividade e competitividade da nossa indústria é o seu relativamente baixo consumo de serviços de agregação de valor e diferenciação de produtos.

O que fazer? Esses resultados sugerem que, primeiro, sem que a produtividade do setor de serviços aumente a uma taxa superior à dos demais setores, não será possível elevar a produtividade agregada. E, segundo, embora precisemos desesperadamente expandir a oferta e melhorar a qualidade dos serviços de custos, é na expansão dos serviços de agregação de valor e diferenciação de produtos e na sua interação com os demais setores que estaria uma das chaves da nossa prosperidade.

Em razão de seu caráter transversal, estruturante e sinergético, o aumento da produtividade e da competitividade deveria ser alçado ao status de prioridade das políticas públicas. Aqui, há dever de casa para todos e todos podem e deveriam colaborar, sejam eles indivíduos, famílias, escolas, empresas, sindicatos, agentes públicos, judiciário, legislativo e governos em todos os níveis. Afinal, parodiando Aristóteles, nessa agenda, uma andorinha só não faz verão. E prosperidade econômica é de interesse de todos.

[1] Professor de economia da UnB. Email: jarbache@gmail.com